quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ele É Especial...


Fico observando as pessoas desesperadas em conseguirem sucesso, bom emprego, dinheiro e tudo mais. Passam por cima de tudo e de todos para conseguirem o que querem, não estão preocupadas com princípios, compaixão e respeito por ninguém. É... Vejo que não estou ficando velha, e sim, amadurecendo a cada dia mais. Venho aqui compartilhar o que me deixa bem, o que me deixa calma, o que – ou melhor – QUEM realmente me deixa tão bem.
Em uma de minhas andanças procurando ajudar animais, encontrei uma das criaturas mais importantes de minha vida. Ele vivia em um abrigo para animais resgatados. Só que tal abrigo era um lugar sem as mínimas condições para atender qualquer caso de maus tratos, abandono ou coisa parecida. Encontrei o meu filho em meio a muita sujeira, muita fome, muito medo, muito frio, muita sede e nada de amor, cuidado, carinho ou atenção. Encontrá-lo naquela situação foi chocante. Ele sofreu um atropelamento e ficou paraplégico. Vivia num barraco muito sujo e fétido e, como se não bastasse, quando a noite chegava, ia para um pequeno tanque de concreto com uma espécie de grade por cima dele. Vivia “enjaulado”. Quando o vi sendo colocado naquele lugar (mesmo que fosse para passar a noite), fiquei sem reação. Queria correr, gritar pegá-lo no meu colo e dizer que tudo aquilo era um pesadelo e que tinha acabado. Lembro que, naquela noite, não dormi nada! Apenas pensava que o queria comigo. Sabia que enfrentaria a fúria dos meus pais, pois, em nossa casa, há mais cachorros do que pessoas. Resolvi levá-lo. Falei pra minha mãe (como sempre) que seria apenas por algum tempo, que eu iria treiná-lo numa cadeirinha e o levaria para o Augusto Abrigo. Claro que eu nunca aceitaria isso, pois, a essa altura, o amor já estava no ar! Olhei aquela carinha e pensei: parece um anjinho! Pronto! Miguel será o seu nome. Nos primeiros dias eu tinha até medo de pegá-lo no colo, era uma coisinha tão frágil, parecia que ia quebrar-se. Lembro que tomou vários banhos até sair o mau cheiro daquele lugar. No começo, tive dificuldades em saber como lidar com ele, mas devorei tudo o que via sobre cães especiais e, como toda mãe de primeira viagem, fui aprendendo com meu bebezinho tudo o que precisávamos. Aprendi a dar banho da melhor maneira possível nele, aprendi a fazer comidinha, aprendi a colocá-lo em sua cadeirinha sem tomar mordidas, aprendi a trocar fraldas. Hoje vivo me gabando que troco fraldas com uma mão só!
Não sou de ficar tocando muito nesse assunto, pois é ainda muito dolorido, mas só me lembro de ter refletido tanto sobre o sentido da vida quando perdi um grande amigo após um suicídio. O Miguel me faz refletir que a felicidade requer tão pouco da gente! Às vezes, penso se sou mesmo merecedora de tanto amor e gratidão. Ele dorme no meu quarto. É tão lindo vê-lo esperar quietinho o meu despertar. É incrível ele saber que não pode fazer muita bagunça senão a mamãe acorda. Só quem ama animais sabe e sente essa incrível sintonia existente, esses laços que unem o ser humano a um não humano. Mas também basta eu mexer o pezinho que ele começa a pular e querer sair do quarto para dar uma voltinha matinal pelo quintal. É lindo demais!
No começo, confesso que cheguei a pensar que teria muito trabalho em cuidar de um anjinho com necessidades especiais. Quanta besteira! Miguel não me dá trabalho algum. Ele é super independente, só preciso ter cuidados com o espaço físico, obviamente, para não machucá-lo. O piso tem que ser liso, não posso deixar muitos obstáculos pela casa, a noitinha coloco a fraldinha para ele não acordar “nadando” no xixi. Coisinhas banais.
O Miguel seria, isso mesmo, seria o primeiro cadeirante do Augusto Abrigo. Decidi ficar com ele primeiramente porque foi amor à primeira vista, e segundo, porque não achava justo a Eliane, com o todo o trabalho que já tem, ter que se dedicar mais ainda a um especial. Nosso esforço durou pouco tempo, pois, como muitos sabem, o Augusto Abrigo está com vários anjinhos com necessidades especiais. Queria muito adotar todos os cadeirantes de lá. Quando me lembro dos olhos da Ludmila, do Foguinho, das brincadeiras do Minhoca... ai, se eu pudesse estariam todos comigo.
Meu coração chega a doer quando penso que é tão difícil encontrar adotantes para esses anjinhos, porém, aproveito a oportunidade para dizer que cuidar de um animal especial não é complicado como se pensa não! Enquanto as pessoas pensarem assim, esses anjinhos ficarão privados de ter uma família para chamarem de sua. Um lugar que seja seu lar até seus últimos dias.
O Miguel é especial sim, não por causa das suas limitações físicas, ele é especial porque me fez sentir de novo aquilo com o que eu já não me importava mais e, quando eu estou em silêncio, ele me conforta simplesmente com o seu olhar. Sinto pena de quem cega os seus olhos por causa do preconceito, pois, seu eu tivesse virado as costas para o meu filho, se eu tivesse repetido a frase que muito escuto (vai dar muito trabalho) eu não teria encontrado o amor verdadeiro, a amizade sem limites, o carinho sem pensar em recompensa e não estaria me sentindo o ser humano mais amado de todo o mundo. É muito gratificante saber que você é amado pelo simples fato de fazer parte da vida de alguém como faço parte da vida do Miguel.
Miguel é tão serelepe que não fica quieto nenhum minuto. Quando vê a sua cadeirinha, fica como um doidinho latindo e querendo ir para a rua. Ele faz o maior sucesso na rua dando umas voltas na cadeira. Se ligarmos o som ele vem todo todo pedindo colo para poder dançar! Ele quer viver! Quer ser feliz! A deficiência não lhe tira o direito à vida, à felicidade. Não cubram os olhos para isso, não deixem o preconceito cobrirem seus corações. Adotem um animal especial, pois, sem dúvida alguma, vocês serão mais que especial na vida dele.
O meu filho foi a coisa mais especial que aconteceu na minha vida. Eu o amo com todas as minhas forças.
Miguel, você me faz tão bem... Você me faz tão bem!



Leide Silva é protetora de animais.

4 comentários:

  1. oinn *_*
    Adorei o exemplo a ser seguido, com certeza!
    Parabéns Leide! Parabens Miguel por ter essa mamae tao boa =)

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  2. Leide, também adotei um cão deficiente, o Brad Pitt, um pittbull que nasceu com as patas dianteiras malformadas. Ele foi levado pelo proprietário da mãe para ser sacrificado ainda bebê na veterinária. Parceira da Proanima, a veterinária consultou sobre a possibilidade de alguém adotá-lo. Quando o vi, pequenino, dormindo na inocência, sem sequer imaginar o mundo mau que o circundava, não tive dúvidas em trazê-lo para casa e dar-lhe a melhor vida possível. Hoje, com três anos, ele entra sozinho no carrinho para passear, é um meninão alegre e um pouco abusado. Pesa bastante, mas isso a gente administra, faço meu levantamento de peso diário. Quando tenho que deixá-lo no canil para receber visitas ou viajar, sinto um enorme vazio. Ele faz parte da minha vida e é bom demais saber que tenho um rabinho a abanar alegremente ao chegar em casa. É tão fácil fazer um ser feliz, e a gratidão de um animal acolhido no amor é algo indescritível. Que as pessoas possam se sensibilizar com nossas histórias e não tenham medo de adotar um focinho carente e especial. Parabéns por sua coragem e pelo amor que dedica ao seu Miguel. O meu cão, felizmente, não passou pela amargura e sofrimento do seu bebê, por isso, ponto a mais para o amor lindo que dedica a ele.

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  3. Eu lembro bem a primeira vez que vi o Miguel, preso em um buraco cercado de cimento e com grade em cima. Ele nem conseguia ficar sentado, pois não tinha espaço. Ainda leiga no assunto de animais, a pessoa que "cuidava" dele disse que era preciso para o bem dele. Hoje, quando lembro, me dá raiva de não ter questionado mais.
    Parabéns Leide, por ter salvo e cuidar do Miguel tão bem. Bjss

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  4. Pois é Alê, vc estava conosco no dia. Hj o Pepito tá super bem. Danado d+! Levei uma mordida do danado que me rendeu dois pontinhos na mão. Nisso que dá separar brigas...rsrs. Mas tá tudo bem.

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