quinta-feira, 15 de setembro de 2011

É Preciso Muito Amor



Assim que vi a foto do Felício com seu irmão, achei-o muito lindo. Seu pelo branco e olhos azuis me encantaram. Eu nunca tive um gato, mas sempre adorei os bichos. Há algum tempo vinha amadurecendo a idéia de ter um bichinho para ser meu amiguinho no dia-a-dia, pensei em um cachorro, mas ele pede atenção demais; pensei numa tartaruga, mas em sua hibernação eu iria me sentir sozinha... Eis que vi a foto do Snow para doação. Logo pensei: um gato! Um bichinho asseado e independente, brincalhão e fofo!
Depois da foto, pensei por uma semana se pegaria o gato, eu tenho a saúde frágil, isso foi minha maior preocupação na adoção. Após algumas pesquisas na internet sobre saúde e pets  resolvi pegá-lo. Os amigos e familiares, de tamanha empolgação, logo me ajudaram, com doação de brinquedos, vasilhas para xixi  e outros utensílios e, claro, carinho.
No dia 19/04/2011 foi a nossa primeira noite, foi muito difícil nós não dormimos: ele miava tão alto, que parecia que estava com muita dor. Apelei ajuda a Santo Antônio. Afinal ia incomodar os vizinhos, sem contar que ele não podia me ver que saia correndo.  Outro detalhe é que por dias ele se escondeu embaixo da geladeira e de lá não saia, não nos víamos. Comprei um petisco mais atraente, com cheiro de patê Francês para conquista-lo e foi a grande ajuda.
Após duas noites mal dormidas o príncipe Snow começou a se render, a me olhar, até a comer na minha mão, mas pegá-lo ou fazer carinho era impossível. Então no quarto dia, eu bloqueei o acesso dele embaixo da geladeira com papelão. Enfim ele veio mais perto de mim... olhando meu sono, percebendo cada movimento meu, brincamos.
Ao longo de dois meses essas foram às sensações, sem muito progresso, eu estava muito cismada com o comportamento do Felício Snow, ele continuou fugindo quando eu tentava pegá-lo. Quando ele se sentia invadido me batia com a patinha... Sem contar que ele rosnava! Ah! Ele descobriu o sofá e começou a fazer xixi todos os dias lá!  Estão me preocupei, pois as única coisa que o projeto fez antes de me entregá-lo foi castrar e vermífugá-lo. Logo deduzi que tinha algo errado com meu gato, resolvi novamente buscar informações na internet , as tutoras do projeto me auxiliaram muito, os amigos e familiares que tinham gatos também.
Todos acharam muito estranho o comportamento dele, me pediram paciência, mas o Snow estava crescendo e perdendo a noção de carinho, eu tinha que acelerar meu passo. Eu acredito que algumas pessoas até pensaram que eu estava maltratando o tigrinho branco.
Diante disso, levei-o pela primeira vez ao veterinário em Junho, onde foi vacinado e recebeu a segunda dose do vermífugo. Foram precisos três homens com luvas de pedreiro para segurar o gatinho. Senti uma grande ânsia de choro, achei que foi muita crueldade, apesar de conhecer a boa índole e fé do veterinário, que me disse que ele não tinha nada, que estava tudo bem, mas ele seria um gato bravo e jamais chegaria perto de mim .
Ainda assim muito preocupada com tudo, e inconformada com a explicação de um veterinário experiente, resolvi levá-lo no hospital veterinário da UNB, no final de julho, pois lá ele seria tratado por uma veterinária que trabalha somente com felinos,  e tudo poderia mudar. Essa foi minha esperança.

Diante dessa motivação, levantei às 5hs da manha e no dia escolhido levei o meu gatinho. Foi um corre corre até ele entrar na caixa de transporte,  demoramos  no HVet toda a manhã, mas a consulta foi maravilhosa: lá descobrimos sarnas nos dois ouvidos, limpos pela equipe. A veterinária o pegou pelo pescoço, uma técnica para render o animal de uma forma menos assustadora.  A consulta dele durou trinta minutos, tivemos uma conversa longa, todas minhas dúvidas foram sanadas, tive dicas de como tratar melhor meu gatinho e compreender a sua característica.
Atualmente o Felício Snow toma, duas gramas do antidepressivo amitriptilina, para melhorar seu comportamento. Ele é muito medroso e ao sentir-se ameaçado foge, se esconde, marca o seu território sem parar (xixi no sofá). Essa medicação irá melhorar o seu comportamento, torná-lo menos medroso para viver melhor com os obstáculos da vida e nas idas ao veterinário posso dar seis gotinhas de Amplictil. Assim ele fica sedado e não preciso correr pela casa para coagi-lo,  coloca-lo na caixa de transporte ficou mais fácil.
A alimentação dele juntamente com os remédios são controlados, faço uma anotação diária sobre o comportamento dele, para averiguação do efeito da medicação. Quando ele ficar mais confiante espero retirar a medicação de forma gradativa, juntamente com a indicação do veterinário.
Nesses seis meses, aprendi com meu gato que devemos respeitar as diferenças, sei que talvez ele nunca seja dócil, ou vai me pedir colinho, nem sei se irá me lamber um dia como carinho mas ele é lindo só de ver...as baguncinhas que ele faz em casa alegram meu dia. Em noites de insônia é com quem converso e dou o lençol para ele brincar. É quem, quando pula na cama sinto o colchão afundar. Ele é simplesmente lindo. São tantos os motivos positivos e peripécias dele que me animam a tê-lo em casa.

Raquel Cavalcanti, secretária executiva na Embrapa, em Brasília, é mãe do Snow e há 15 dias, adotou mais uma filha, a Docinho de Mel, uma trigradinha linda, que a está ajudando a cuidar do irmãozinho.

5 comentários:

  1. Sempre afirmo que td animal tem a "sua" família - Snow achou a dele, senão já teria sido devolvido há mt tempo. Doo gatos há mts anos, convivo com eles a mts mais, e sei exatamente como é difícil enfrentar essas dificuldades e vencê-las (pq um dia as vencemos!). A paciência e persistência e esse imenso amor da Raquel a fazem digna da minha mais profunda admiração - que seja sempre abençoada! Um exemplo para quem desiste na menor dificuldade e nem dá a oportunidade para o bichinho se ambientar.

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  2. Que história linda, Raquel. Tenho certeza de que o Snow não poderia ter encontrado uma "mãe" melhor que você. Abraços e tudo de bom.

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  3. Reconheci-me nessa história.

    Há aproximadamente 1 mês, adotei duas filhotes irmãs: Tuca, de pêlo cinza tigrado, e Tita, cinza tigrado no dorso e branco na barriga.

    A primeira vez que as vi, estavam escondendo-se embaixo da cama da protetora. Eram duas bicho-do-mato. A princípio descartei a possibilidade de adotá-las, pois prefiro bichos carinhosos e manhosos, mas por uma reviravolta acabei por aceitar o desafio.

    Quando chegaram na minha casa, Tuca foi a primeira a sair do carregador, mas já se escondeu embaixo da cama. Tita não saiu nem por decreto. Tivemos que tirá-la na marra para a protetora levar a caixa de transporte embora.

    Nos dias que seguiram, dois eventos ocorreram:
    A Tuca se soltou cada vez mais aceitando carinho e brincando, enquanto a Tita tomou o caminho oposto, chegando até a deixar de comer.

    A protetora havia me informado antes da adoção que a Tita já tinha sido devolvida uma vez por não ter se adaptado. Confesso que ponderei seriamente sobre o caso pois além de ela não corresponder ao carinho, eu não queria que ela fosse infeliz ali.

    Mas a situação repentinamente mudou. Depois de 3 semanas conversando com ela, tentando aproximação cuidadosamente e tendo escassos progressos, finalmente a alguns dias atrás eu ouço um "ronron" de aprovação ao passar a mão nela. É difícil descrever a felicidade que senti naquele momento...

    Mesmo com tão pouco tempo de convivência (pouco mais de 1 mês, salvo engano), apeguei-me muito às duas, principalmente à Tita, que ainda dá certo trabalho com seu perfil anti-social. Um detalhe interessante é que, apesar de não ser um fosso de carinho como a Tuca, ela é "passivamente carinhosa", aceitando de bom grado qualquer cafuné.

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  4. Bruno, assim como a Tita é especial, você também o é por ter aceito o desafio de conquistá-la. Como disse a Suzane acima, todo animal tem uma família certa. Acredito que as irmãs encontram, enfim, o lar que tanto esperavam. Suzana

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  5. Os gatos são muito apegados ao local onde vivem. Toda mudança acarreta dificuldades de adaptação e estranhamento. Maltrados, trazem a lembrança do passado e só com muito amor e paciência conseguem entender que estão entre amigos. Tudo que o Felício está vivendo é um desafio grande para ele. Persevere na meiguice e no acolhimento e em pouco tempo ele estará demonstrando gratidão e carinho pela "mãezona"que ganhou. Boa sorte e parabéns por não desistir nos primeiros dias e dificuldades. Ele vai lhe encher de amor e alegria quando estiver plenamente seguro e adaptado. Afinal, o mais difícil é sempre o mais gostoso.

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