Jane Araújo
Nunca tivemos cães ou gatos quando crianças. Meu pai não gostava e ninguém se atrevia a contrariá-lo. Éramos uma família de 12 filhos e mais primos, empregadas, visitantes, a típica casa mineira do século passado, sempre lotada. Como querer bichos no meio de tanta confusão? Minha mãe gostava de animais. Como não podia ter um cãozinho, colecionava periquitos australianos num viveiro. Eram lindos, azuis, amarelos, verdes, sempre aos pulinhos e beijinhos. Quando minha mãe ficou mais velha e a casa esvaziou com a revoada dos filhos, cada um seguindo o próprio destino, ela pode finalmente ter seu primeiro cão, uma pequinês de nome Kelly. Depois, veio seu filhote, o Beto. Aqueles bichinhos certamente lhe deram enorme alegria na terceira idade.
Quando minha filha fez 14 anos, dei a ela um gato siamês, o Garfield. Depois, compramos a Panda para fazer-lhe companhia. Eles viveram 18 anos conosco. Ao longo dos anos, adotei vários gatinhos que ia encontrando na rua, doei todos, pois, morando em apartamento não tinha como manter mais do que um casal. Ao ficarem doentes e velhos, tive que optar por sacrificá-los, eles tinham chegado ao estado terminal com sofrimento e não morriam naturalmente. Gato tem mesmo sete vidas. Foi duríssimo acompanhá-los na derradeira viagem, fiquei com ambos até o instante final, eram meus xodós. Chorei como criança ao enterrá-los, mas tinha a consciência tranquila de ter-lhes oferecido a melhor vida possível. Como não sei viver sem felinos, pouco tempo depois, adotei a Shiva, uma SRD que está comigo até hoje. Livrei-a de uma gaiola no meu antigo e querido veterinário, o dr. Luiz Fernando Lenzi, que hoje nos olha lá de cima, após sua brusca e prematura partida deste mundo.
Cães, fui ter quando me juntei ao Luiz Otávio. Ele tinha um casal de boxer na fazenda, o Thor e a Donna. Ela faleceu após dar cria e contrair um tétano, por um descuido de não tê-la levado a uma clínica adequada. Dos bebês que gerou, salvamos o Gandhi, que viveu conosco alguns anos em companhia da Pinah, uma SRD negra da melhor estirpe. Gandhi era muito sem juízo e foi picado três vezes por cobra na fazenda, nas duas primeiras ocorrências conseguimos salvá-lo, pois estávamos por perto e aplicamos o soro em tempo. Na terceira, não deu e ele partiu também jovem para o céu dos caninos. Pinah saiu um dia atrás de alguma caça e nunca mais voltou. O Thor também teve não teve melhor sorte, foi morto pelo vizinho que já havia se queixado de ele atacar suas ovelhas. Tempos depois ganhei uma daschund de um amigo, ela latia muito e a vizinha queixou-se e tivemos que levá-la para a fazenda. A Sashimi amou aquele lugar, corria no capinzal como uma lebre solta, mas um dia o caseiro ligou dizendo que ela tinha sido picada por algum bicho e morrera antes de ele chegar ao veterinário da cidade próxima.
Finalmente, ganhamos o Bill, um fila grandão e meigo como criança boa. Mas tivemos que desativar a fazenda para pô-la à venda e doamos o nosso cãozarrão para um conhecido. Esse pelo menos teve melhor destino.
Acho que todos deveriam pensar em adotar um animal, a alegria que eles sentem por ter um lar e quem os ama e proporcionalmente igual à felicidade que dão aos donos. Ajudem a dar um lar e amor aos milhares de cães abandonados em abrigos e na CCZ, estes condenados a uma morte horrível numa câmara de gás. Tenho certeza de que ficarão duplamente recompensados com a gratidão desses animais Experimentem essa alegria e em breve estarão neste espaço dando um depoimento semelhante ao que faço agora.
Jane Araujo é jornalista, trabalha atualmente no Serpro, é ativista da causa dos animais, ajuda protetores independentes em vários estados brasileiros, fazendo campanha e rifas em prol desses abnegados defensores dos bichos. Quando aposentar, pretende criar uma associação de proteção e certamente atuará com mais ímpeto na ajuda e resgate desses seres tão sofridos que perambulam pelas nossas cidades sob o olhar indiferente das autoridades e das comunidades que os vêem como estorvo e não como seres merecedores da vida, de respeito, de um lar e de carinho.