quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ele É Especial...


Fico observando as pessoas desesperadas em conseguirem sucesso, bom emprego, dinheiro e tudo mais. Passam por cima de tudo e de todos para conseguirem o que querem, não estão preocupadas com princípios, compaixão e respeito por ninguém. É... Vejo que não estou ficando velha, e sim, amadurecendo a cada dia mais. Venho aqui compartilhar o que me deixa bem, o que me deixa calma, o que – ou melhor – QUEM realmente me deixa tão bem.
Em uma de minhas andanças procurando ajudar animais, encontrei uma das criaturas mais importantes de minha vida. Ele vivia em um abrigo para animais resgatados. Só que tal abrigo era um lugar sem as mínimas condições para atender qualquer caso de maus tratos, abandono ou coisa parecida. Encontrei o meu filho em meio a muita sujeira, muita fome, muito medo, muito frio, muita sede e nada de amor, cuidado, carinho ou atenção. Encontrá-lo naquela situação foi chocante. Ele sofreu um atropelamento e ficou paraplégico. Vivia num barraco muito sujo e fétido e, como se não bastasse, quando a noite chegava, ia para um pequeno tanque de concreto com uma espécie de grade por cima dele. Vivia “enjaulado”. Quando o vi sendo colocado naquele lugar (mesmo que fosse para passar a noite), fiquei sem reação. Queria correr, gritar pegá-lo no meu colo e dizer que tudo aquilo era um pesadelo e que tinha acabado. Lembro que, naquela noite, não dormi nada! Apenas pensava que o queria comigo. Sabia que enfrentaria a fúria dos meus pais, pois, em nossa casa, há mais cachorros do que pessoas. Resolvi levá-lo. Falei pra minha mãe (como sempre) que seria apenas por algum tempo, que eu iria treiná-lo numa cadeirinha e o levaria para o Augusto Abrigo. Claro que eu nunca aceitaria isso, pois, a essa altura, o amor já estava no ar! Olhei aquela carinha e pensei: parece um anjinho! Pronto! Miguel será o seu nome. Nos primeiros dias eu tinha até medo de pegá-lo no colo, era uma coisinha tão frágil, parecia que ia quebrar-se. Lembro que tomou vários banhos até sair o mau cheiro daquele lugar. No começo, tive dificuldades em saber como lidar com ele, mas devorei tudo o que via sobre cães especiais e, como toda mãe de primeira viagem, fui aprendendo com meu bebezinho tudo o que precisávamos. Aprendi a dar banho da melhor maneira possível nele, aprendi a fazer comidinha, aprendi a colocá-lo em sua cadeirinha sem tomar mordidas, aprendi a trocar fraldas. Hoje vivo me gabando que troco fraldas com uma mão só!
Não sou de ficar tocando muito nesse assunto, pois é ainda muito dolorido, mas só me lembro de ter refletido tanto sobre o sentido da vida quando perdi um grande amigo após um suicídio. O Miguel me faz refletir que a felicidade requer tão pouco da gente! Às vezes, penso se sou mesmo merecedora de tanto amor e gratidão. Ele dorme no meu quarto. É tão lindo vê-lo esperar quietinho o meu despertar. É incrível ele saber que não pode fazer muita bagunça senão a mamãe acorda. Só quem ama animais sabe e sente essa incrível sintonia existente, esses laços que unem o ser humano a um não humano. Mas também basta eu mexer o pezinho que ele começa a pular e querer sair do quarto para dar uma voltinha matinal pelo quintal. É lindo demais!
No começo, confesso que cheguei a pensar que teria muito trabalho em cuidar de um anjinho com necessidades especiais. Quanta besteira! Miguel não me dá trabalho algum. Ele é super independente, só preciso ter cuidados com o espaço físico, obviamente, para não machucá-lo. O piso tem que ser liso, não posso deixar muitos obstáculos pela casa, a noitinha coloco a fraldinha para ele não acordar “nadando” no xixi. Coisinhas banais.
O Miguel seria, isso mesmo, seria o primeiro cadeirante do Augusto Abrigo. Decidi ficar com ele primeiramente porque foi amor à primeira vista, e segundo, porque não achava justo a Eliane, com o todo o trabalho que já tem, ter que se dedicar mais ainda a um especial. Nosso esforço durou pouco tempo, pois, como muitos sabem, o Augusto Abrigo está com vários anjinhos com necessidades especiais. Queria muito adotar todos os cadeirantes de lá. Quando me lembro dos olhos da Ludmila, do Foguinho, das brincadeiras do Minhoca... ai, se eu pudesse estariam todos comigo.
Meu coração chega a doer quando penso que é tão difícil encontrar adotantes para esses anjinhos, porém, aproveito a oportunidade para dizer que cuidar de um animal especial não é complicado como se pensa não! Enquanto as pessoas pensarem assim, esses anjinhos ficarão privados de ter uma família para chamarem de sua. Um lugar que seja seu lar até seus últimos dias.
O Miguel é especial sim, não por causa das suas limitações físicas, ele é especial porque me fez sentir de novo aquilo com o que eu já não me importava mais e, quando eu estou em silêncio, ele me conforta simplesmente com o seu olhar. Sinto pena de quem cega os seus olhos por causa do preconceito, pois, seu eu tivesse virado as costas para o meu filho, se eu tivesse repetido a frase que muito escuto (vai dar muito trabalho) eu não teria encontrado o amor verdadeiro, a amizade sem limites, o carinho sem pensar em recompensa e não estaria me sentindo o ser humano mais amado de todo o mundo. É muito gratificante saber que você é amado pelo simples fato de fazer parte da vida de alguém como faço parte da vida do Miguel.
Miguel é tão serelepe que não fica quieto nenhum minuto. Quando vê a sua cadeirinha, fica como um doidinho latindo e querendo ir para a rua. Ele faz o maior sucesso na rua dando umas voltas na cadeira. Se ligarmos o som ele vem todo todo pedindo colo para poder dançar! Ele quer viver! Quer ser feliz! A deficiência não lhe tira o direito à vida, à felicidade. Não cubram os olhos para isso, não deixem o preconceito cobrirem seus corações. Adotem um animal especial, pois, sem dúvida alguma, vocês serão mais que especial na vida dele.
O meu filho foi a coisa mais especial que aconteceu na minha vida. Eu o amo com todas as minhas forças.
Miguel, você me faz tão bem... Você me faz tão bem!



Leide Silva é protetora de animais.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Minha Fama de Mau



Sempre tive cães, sempre gostei de cães. Perdi o Blue para a cinomose, numa época em que as vacinas não eram muito confiáveis e foi uma das experiências mais difíceis da minha vida. Cuidamos dele até o último momento, ajudando-o a levantar-se para fazer suas necessidades, dando comida na boca.
Nena, minha esposa também gosta muito de cães, mas, quando nos casamos, morando em apartamento tivemos que nos restringir a paparicar os dois dobermans de meus pais, quando íamos à casa deles. Só onze anos depois, Anita e Diana entraram em nossas vidas. São duas daschunds (COFAPs) e eram presentes de aniversário para ela, mas me adotaram de tal forma que hoje, quando brincamos sobre uma hipotética separação entre nós, não é pelo patrimônio que brigamos, mas pela guarda das “meninas”. Por causa delas, para que tivessem espaço para correr e brincar, resolvemos construir nossa casa. Já instalados, outros cães juntaram-se à matilha.
Quando a Nena começou a fazer trabalho voluntário junto à ProAnima, como anunciante dos animais para adoção, vez por outra, me falava de algum caso que passava por suas mãos. Num desses, me interessei. Temos rottweilers e é uma raça que aprendi a admirar. Pois o animal anunciado era um macho da raça, adulto, abandonado e vítima de maus tratos. Não conseguimos contato com o anunciante e eu já ia desistindo da ideia de adoção, quando surgiu outro, cujo dono pretendia se mudar para um apartamento. Era uma caridade menor, mas ainda assim, resolvemos adotá-lo. Naquela tarde mesmo, Lampião chegou, trazido pelo dono e seu filhinho. O garoto, em pé, era da altura do cachorro, mas o abraçava e beijava e chorou muito quando foram embora, deixando o perplexo cachorrão para trás, com a recomendação de que o levássemos ao veterinário para verificar uma ligeira claudicagem da pata traseira direita, talvez conseqüência de um prego ou caco de vidro. Dito e feito. Mas o diagnóstico foi menos alentador do que uma simples ferida: um câncer ósseo que já havia lhe devorado um dos dedos e alcançava outros.
Nossa primeira decisão foi devolvê-lo. Não nos sentíamos preparados para lidar com um animal que não conhecíamos bem, cujas reações, agravadas pelo sofrimento e a dor, podem ser inesperadas e agressivas. Enquanto tentávamos contato com seu dono, Lampião foi nos conquistando. Era um cachorrão manhoso, carente por carinho e atenção e muito obediente. Num feriado, o levamos até o córrego que passa ao fundo de nosso lote. Embora ele estivesse torturado pela unha, que acabou arrancando na noite seguinte, brincou como um filhote: correu, nadou, cavou e rolou na areia, um grande e feliz cachorro à milanesa. Às vezes, rosnava para nós quando ameaçado ou ao sentir dor, mas bastava um "não" contundente para que ele voltasse à sua condição submissa. Claro que evitávamos nos pôr em riscos desnecessários. A focinheira fazia parte do curativo e eu tinha sempre a mão um aparelho de choques para inibir qualquer tentativa de ataque. Logo essas precauções se mostraram desnecessárias: Lampião tinha uma ótima índole, integrou-se à nossa matilha quase automaticamente e, quando precisava se impor sobre os outros cães, nunca o fazia com agressividade exagerada. Seus grunhidos de advertência eram suficientes para impor respeito.


Decidimos ficar com ele e demos ao nosso novo amigo o melhor final de vida possível: carinho, cuidados, alimentação de qualidade e companhia. Por algum tempo, não fosse a dificuldade em pisar, ele parecia uma cachorro normal e saudável. Depois, após algumas tentativas de tratamento com cirurgia, a doença foi se alastrando e restringindo seus movimentos. Quando percebemos que o sofrimento havia se tornado muito mais significativo que as alegrias, o levamos à clínica e ficamos ao seu lado até o último suspiro.
Ainda lamentávamos sua partida, quando, numa visita à chácara da Gy, a Nena conheceu a Brenda, outra rottweiler. Esta tinha fama de má. Foi criada por um policial e recebia qualquer visita com latidos monstruosos, espumando e gotejando saliva à aproximação de estranhos. Vivia confinada em um cercado, sem contato direto com outros cães ou pessoas. Era um espaço até bem maior do que ela tinha na casa onde cresceu, mas, ainda assim, pequeno para seu porte. E, o que era pior, ela constituía-se em um problema para a Gy, dadas as dificuldades no seu convívio. Resolvi ir conhecê-la. À primeira vista, ela era mesmo assustadora. Porém, aos poucos fui me aproximando, avaliando seu comportamento, até que me senti seguro e entrei no seu canil. A Nena me contou depois que, enquanto eu estava lá dentro, brincando com ela que logo deitou-se de costas para que eu lhe coçasse a barriga, a Gy e seus ajudantes ficaram do lado de fora, apavorados, tentando manter os outros cães sob controle, temerosos de que ela pudesse ficar nervosa e me atacar. Em minha segunda visita, andamos um pouco pela chácara, ela na coleira, os outros todos presos em seus canis. A decisão estava tomada e, naquele dia mesmo, ela veio conosco para casa. Por precaução, a focinheira, já que a pusemos no banco de trás do carro, aquela boca enorme a centímetros de nossas orelhas.
Hoje, Brenda está completamente integrada à casa e à nossa matilha. Anda por tudo e convive com os outros cães. Já entendeu que as daschs são, inexplicavelmente, as donas do pedaço, mas morre de ciúmes das outras rotts. Também não tem muita paciência com os filhotes, mas, do mesmo modo que o Lampião, impõe os limites sem exagerar na força.
Focinheira? Agora, só na psicopata da Laila, que é uma das cadeirantes adotadas pela Nena e que acha que tem super poderes. Parte para cima da Brenda com ganas de morte. A negona? Olha de cima para aquela coisica que mal sabe latir e sai do caminho. Fazer o quê? Não quer magoar sua nova família e, apesar da Laila ser mesmo uma chata, parece ter quem a queira por aqui.



A fama de má? Mesmo que não tivesse. Rottweilers são cães perigosos, pelo porte, pela força, pela resistência. Adotar um deles, adulto, exige coragem e sobretudo, respeito. Mas, uma vez conquistados e tomando-se as precauções necessárias, são tão amorosos e dóceis quanto qualquer outro cachorro. E, no caso da Brenda, ainda mais, já que, depois de tantos anos isolada,  ela parece estar se agarrando com unhas e dentes a esta oportunidade de uma vida normal.
Com ela, temos hoje nove cães adotados. Quatro deles chegaram aqui filhotinhos e a Nena os estava anunciando para adoção. Eu fiz com que ela retirasse os anúncios. Se depender de mim, entraram aqui, passam a fazer parte da família e só vão sair depois de vidas longas e felizes. O mais longas e felizes que eu puder garantir.
Quem ganha mais com isso? Eu mesmo, claro! Quando chego em casa e dou de cara com aquele monte de olhos ansiosos me esperando na grade, quando vou ao seu encontro e sou cercado por eles, na disputa por um afago, uma palavra de carinho, um petisco... Quando caminho por aqui com eles e tenho a certeza de que nada poderá me atingir, de que cada um deles daria a vida por mim...
É claro que é possível ser feliz sem um cão. Mas, certamente, a vida é bem melhor com eles.

Marcos Pires é analista de sistemas e vive em Brasília há quase trinta anos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

É Preciso Muito Amor



Assim que vi a foto do Felício com seu irmão, achei-o muito lindo. Seu pelo branco e olhos azuis me encantaram. Eu nunca tive um gato, mas sempre adorei os bichos. Há algum tempo vinha amadurecendo a idéia de ter um bichinho para ser meu amiguinho no dia-a-dia, pensei em um cachorro, mas ele pede atenção demais; pensei numa tartaruga, mas em sua hibernação eu iria me sentir sozinha... Eis que vi a foto do Snow para doação. Logo pensei: um gato! Um bichinho asseado e independente, brincalhão e fofo!
Depois da foto, pensei por uma semana se pegaria o gato, eu tenho a saúde frágil, isso foi minha maior preocupação na adoção. Após algumas pesquisas na internet sobre saúde e pets  resolvi pegá-lo. Os amigos e familiares, de tamanha empolgação, logo me ajudaram, com doação de brinquedos, vasilhas para xixi  e outros utensílios e, claro, carinho.
No dia 19/04/2011 foi a nossa primeira noite, foi muito difícil nós não dormimos: ele miava tão alto, que parecia que estava com muita dor. Apelei ajuda a Santo Antônio. Afinal ia incomodar os vizinhos, sem contar que ele não podia me ver que saia correndo.  Outro detalhe é que por dias ele se escondeu embaixo da geladeira e de lá não saia, não nos víamos. Comprei um petisco mais atraente, com cheiro de patê Francês para conquista-lo e foi a grande ajuda.
Após duas noites mal dormidas o príncipe Snow começou a se render, a me olhar, até a comer na minha mão, mas pegá-lo ou fazer carinho era impossível. Então no quarto dia, eu bloqueei o acesso dele embaixo da geladeira com papelão. Enfim ele veio mais perto de mim... olhando meu sono, percebendo cada movimento meu, brincamos.
Ao longo de dois meses essas foram às sensações, sem muito progresso, eu estava muito cismada com o comportamento do Felício Snow, ele continuou fugindo quando eu tentava pegá-lo. Quando ele se sentia invadido me batia com a patinha... Sem contar que ele rosnava! Ah! Ele descobriu o sofá e começou a fazer xixi todos os dias lá!  Estão me preocupei, pois as única coisa que o projeto fez antes de me entregá-lo foi castrar e vermífugá-lo. Logo deduzi que tinha algo errado com meu gato, resolvi novamente buscar informações na internet , as tutoras do projeto me auxiliaram muito, os amigos e familiares que tinham gatos também.
Todos acharam muito estranho o comportamento dele, me pediram paciência, mas o Snow estava crescendo e perdendo a noção de carinho, eu tinha que acelerar meu passo. Eu acredito que algumas pessoas até pensaram que eu estava maltratando o tigrinho branco.
Diante disso, levei-o pela primeira vez ao veterinário em Junho, onde foi vacinado e recebeu a segunda dose do vermífugo. Foram precisos três homens com luvas de pedreiro para segurar o gatinho. Senti uma grande ânsia de choro, achei que foi muita crueldade, apesar de conhecer a boa índole e fé do veterinário, que me disse que ele não tinha nada, que estava tudo bem, mas ele seria um gato bravo e jamais chegaria perto de mim .
Ainda assim muito preocupada com tudo, e inconformada com a explicação de um veterinário experiente, resolvi levá-lo no hospital veterinário da UNB, no final de julho, pois lá ele seria tratado por uma veterinária que trabalha somente com felinos,  e tudo poderia mudar. Essa foi minha esperança.

Diante dessa motivação, levantei às 5hs da manha e no dia escolhido levei o meu gatinho. Foi um corre corre até ele entrar na caixa de transporte,  demoramos  no HVet toda a manhã, mas a consulta foi maravilhosa: lá descobrimos sarnas nos dois ouvidos, limpos pela equipe. A veterinária o pegou pelo pescoço, uma técnica para render o animal de uma forma menos assustadora.  A consulta dele durou trinta minutos, tivemos uma conversa longa, todas minhas dúvidas foram sanadas, tive dicas de como tratar melhor meu gatinho e compreender a sua característica.
Atualmente o Felício Snow toma, duas gramas do antidepressivo amitriptilina, para melhorar seu comportamento. Ele é muito medroso e ao sentir-se ameaçado foge, se esconde, marca o seu território sem parar (xixi no sofá). Essa medicação irá melhorar o seu comportamento, torná-lo menos medroso para viver melhor com os obstáculos da vida e nas idas ao veterinário posso dar seis gotinhas de Amplictil. Assim ele fica sedado e não preciso correr pela casa para coagi-lo,  coloca-lo na caixa de transporte ficou mais fácil.
A alimentação dele juntamente com os remédios são controlados, faço uma anotação diária sobre o comportamento dele, para averiguação do efeito da medicação. Quando ele ficar mais confiante espero retirar a medicação de forma gradativa, juntamente com a indicação do veterinário.
Nesses seis meses, aprendi com meu gato que devemos respeitar as diferenças, sei que talvez ele nunca seja dócil, ou vai me pedir colinho, nem sei se irá me lamber um dia como carinho mas ele é lindo só de ver...as baguncinhas que ele faz em casa alegram meu dia. Em noites de insônia é com quem converso e dou o lençol para ele brincar. É quem, quando pula na cama sinto o colchão afundar. Ele é simplesmente lindo. São tantos os motivos positivos e peripécias dele que me animam a tê-lo em casa.

Raquel Cavalcanti, secretária executiva na Embrapa, em Brasília, é mãe do Snow e há 15 dias, adotou mais uma filha, a Docinho de Mel, uma trigradinha linda, que a está ajudando a cuidar do irmãozinho.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um Pequeno Poço de Coragem


Meu filho precisava de um cão. Por recomendação do terapeuta, sua dificuldade em dormir em seu próprio quarto seria totalmente eliminada caso outro ser real compartilhasse o quarto com ele.
Eu não queria um cão em minha casa. Seria mais uma tarefa somada no meu dia a dia, já tão complicado com meus 3 empregos, 2 filhos, 1 empregada e nenhuma ajuda.
Fora isso, temos um grande problema na família, que é congênito: somos todos apaixonados por bichos. Tão loucos por eles que acabamos por nos dedicar completamente. Para nós, eles são pessoinhas, nada diferente dos seres que andam sobre duas pernas, falam e realizam diferentes coisas.
Ter cachorro em casa é ter outro membro da família.
E como não estava querendo aumentar o número de elementos familiares, era melhor não ter um cão (mesmo que os adorasse).
Mas, se era para ajudar meu filho a desenvolver sua segurança... poderia valer a pena.
Comecei a procurar, primeiramente observando cachorros na rua, com seus donos.
Vi muitas coisas interessantes. Vi alegres Golden-retrievers desfilando com seus donos, obedecendo a comandos e correndo para pegar bolinhas. Vi pequenos Cockers olhando apaixonadamente para seus donos. Vi lindos Shitzus cheios de lacinhos, andando rapidinho à frente da guia.
Meu filho mais velho, o maior interessado, chegou a decidir que seu cão seria de porte grande, fêmea, e se chamaria Mel.
Mais pé no chão, decidi que o novo membro da família seria um cãozinho de pequeno porte. “Pequeniníssimo” porte, se possível.
E que fosse quietinho, calmo, obediente, paciente e amoroso.
Li, pesquisei, perguntei e fui procurar um criador de Teckels. Os Teckels são também conhecidos como Dachshunds ou, para quem prefere, “salsichinha” ou “cofaps”.
Procurei os melhores canis de São Paulo e encontrei um que criava Teckels . Telefonei, contei toda a minha necessidade e perguntei se ele tinha algum para vender.
O dono do canil, após ouvir e fazer muitas perguntas, disse que não havia nenhum filhote para vender, mas que tinha uma matriz de Teckel de pelo longo de 2 anos que havia dado duas crias e que estava para adoção. Se me interessasse, poderia ficar com ela. Eu não pagaria nada, a não ser o valor da cirurgia de castração, pois ela só sairia do canil depois de castrada.
A princípio, achei aquilo bem esquisito. Na verdade, até então, só havia tido cães SRD e alguns de raça (mas sempre com algum “defeito”, que meu primo veterinário levava para meu pai, de vez em quando: um dálmata surdo, um boxer cardiopata, um dobermam com calo ósseo na bacia...). Pensei que ia comprar um filhote com pedigree, garantia de bons antecedentes comportamentais, personalidade definida pela raça e já preparado para fazer xixi no jornal. É, eu acreditava nisso, naquela época. Achava que a raça determinava tudo
Confesso que levei alguns dias para decidir ir conhecer a tal matriz que estava para adoção. O que seria ela? Por que estaria para adoção? Qual o problema da cachorrinha?
Mas fiquei curiosa e lá fomos nós, eu, meus filhos, minha mãe e minha irmã. Seriam necessários todos os olhos do mundo para descobrir o defeito oculto daquela criatura que estavam querendo me dar.
Fui apresentada à Linda Evangelista, linda Teckel de pelos marrons longos. Estava toda quietinha, medrosa.
Quando a vi, senti piedade por ela. Se eu não a levasse, quem a levaria? Alguém que a tratasse bem? Que lhe desse carinho? Ela estava acostumada com seus amigos no canil, comia uma super ração de qualidade. Ou seja, tinha uma vida legal, embora não parecesse que estivesse acostumada a receber carinho.
A partir daí, o criador e eu pudemos nos comunicar sem barreiras.
A Linda Evangelista foi uma cadela trazida de um grande criador, para São Paulo. Era perfeita em traços e padrões da raça. Seria uma ótima matriz. Cresceu, deu 2 ninhadas de cãezinhos perfeitos. Porém, ela não tinha leite para amamentar seus filhotes, o que inviabilizava sua atuação como reprodutora. Assim, foi decidido que seria colocada para adoção e disponibilizada para uma pessoa que pudesse dar a ela uma vida muito boa. E fui aprovada para ser a dona da Linda.

O criador é um capítulo à parte, nesta estória. É uma pessoa que sim, cria animais para venda. Porém faz um trabalho paralelo, em prol do bem estar animal. Tem parceria com um amigo veterinário para a castração de animais de rua. Não abusa da capacidade reprodutiva de suas matrizes. A maioria, depois de aposentada, fica morando na chácara onde ele também mora. Outras poucas são colocadas para adoção.
Sob os protestos do meu filho mais novo que dizia “mas eu queria um filhote, eu queria um filhote”, fomos para casa.
Com a Linda.
Rapidamente aquela cadelinha de canil foi se tornando a mais mimada e feliz cachorrinha de apartamento.
Dormia no quarto do meu filho. Quando mesmo se sentindo corajoso com a presença da Linda temia alguma coisa durante a noite, acordava-me perguntando “Mãe, a gente pode dormir aqui?”. A gente significava ele e a Linda
O propósito pelo qual ela veio para casa se efetivou: meu filho adquiriu a segurança sonhada. É lindo isso... Um serzinho de 3 quilos conferindo coragem e segurança a outro, muitas vezes maior...
E a profecia familiar se cumpriu: acabamos todos muito apaixonados pela Linda Evangelista. Já era! Estávamos todos amando uma cachorrinha, sem nem lembrar que se tratava de um animal. Era agora parte da minha família.
Os Dachs tem a coluna longa e os vets advertem: não permita que seu cão suba em sofás e camas pois ao descer, pulando lá de cima, podem comprometer a coluna. Mas a Linda não pulava lá de cima... Ela voava!
E o inevitável aconteceu: uma hérnia de disco apareceu e deixou nossa menina paraplégica.
Foram muitas as despesas com cirurgia, tratamento, fisioterapia, acupuntura... Foram muitas as noites de tristeza, ao ver que nossa menina não conseguia mais andar. Até que com o carrinho ela conquistou certa mobilidade, e nos deixou mais tranqüilos.

Ela não faz xixi sozinha, sem estímulo. De tempo em tempo temos que apertar sua bexiga para que não fique muito cheia.
Mas ela não parece nem um pouco preocupada por não poder mais andar sem o carrinho. Deitadinha em sua cama e fala “Au!”. E lá vamos nós com o pote de água para mais perto de sua boca. Depois ela fala “Au-Au!” E vamos dar ração na boquinha dela. Quando ela diz “Au-au-au-Au!!”, saímos correndo para buscar os courinhos que ela gosta de mastigar, porque a Linda Evangelista não sabe esperar. Ainda bem que ela fala!
Ela é terrível! Ensina os outros cachorros da família a latir, reclama, faz exigências... para depois virar a barriguinha para cima e ficar ronronando para que façamos carinho. Ela chora de alegria quando chegamos e pula no carrinho, para nos lamber. Temos que ir até o chão, para que ela possa nos fazer o carinho que tem para nos dar naquele momento.
É a cachorrinha mais valente da turma. É só aparecer um cachorro diferente no pedaço que lá vai ela, toda valente, latindo para o intruso.
E é linda, faz jus ao nome de Linda Evangelista.
Eu a amo demais. Não sei viver sem a companhia dela.
Adotar é tudo de bom.
Adotar um cão adulto é tudo de muito bom.
Adotar a Lindinha foi tudo de maravilhoso que poderia me acontecer. E está ainda acontecendo, Graças a Deus!



Aline é médica em São Paulo e vive em alegre sintonia com seu mundo selvagem, composto de 2 meninos e uma cachorrinha Lindinha.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Um Perneta Turbinado



Nossa história de amor começou pela Internet, quando a Suzane me deu a primeira notícia sobre ele... O Bred havia sido atropelado e recolhido por um casal que o encontrou e entregou à SVPI. Recebeu tratamento na pata lesada e os donos temporários resolveram adotá-lo. Qual não foi a surpresa da Suzana, quando algum tempo depois, ele foi devolvido sob a estranha alegação que o casal "não tinha condições financeiras" de cuidar do Bred, mesmo morando numa linda casa e já tendo outros cãezinhos de raça!
Para azar do Bred, estes irresponsáveis "donos" não lhe dispensaram o cuidado necessário e sua pata piorou muito. Embora a Suzane tenha lhe proporcionado toda a assistência veterinária possível, infelizmente, não foi possível evitar a amputação. Assim meu amiguinho perdeu, por displicência daqueles que deveriam tê-lo protegido, uma de suas patas dianteiras! Toda a história do Bred muito me emocionou, desde o início e assim começou "nosso namoro". Paralelamente a esta história, o sofrimento de minha weimaranner lá na chácara muito me enternecia! Seu companheiro de 9 anos havia falecido e todas as manhãs, por volta das 5 horas ela começava a uivar, no mesmo horário em que acordavam e saíam de suas casinhas para brincar! Deixou de entrar no canil onde ficavam as moradias dela e do Héros e passou a dormir dentro de uma vala que havíamos aberto para plantar um coqueiro, no frio e na terra! Este comportamento dela mexia com meu coração e pensava: como posso ajudá-la? Procurando um companheiro da mesma raça? Devido a quantidade de cães na chácara ter atingido uns 10 outra vez (houve uma época que tinha sido reduzido, devido à morte natural de alguns), entre adotados, salvos e ganhos, eu e meu marido já tínhamos decidido não pegarmos mais nenhum, pois é complicado para o caseiro conseguir cuidar de tudo! Mas, aquela voz lá dentro de mim começou a dizer: porque você não traz o Bred para ser o novo companheiro da Ágata? Seria ótimo para os dois! E, assim, lá fui eu procurar a Suzane, num desses sábados de adoção. Combinamos tudo e eu o trouxe! O resultado? Uma amizade entre nós verdadeira e um enorme carinho!
O Bred é um cachorro bem peralta! Mesmo tendo apenas 3 patas, corre o dia inteiro e a Ágata mal consegue acompanhá-lo! Apronta todas! Na primeira semana uniu-se à ela para cavar por debaixo da cerca, ou melhor, ele levantava com o focinho a tela, já que não conseguia equilibrar-se para cavar, enquanto ela cavava! Rs... Acreditem se quiserem: conseguiram sair para um passeio, mas foram surpreendidos pelo vizinho que logo nos avisou e meu caseiro, rapidamente, capturou os "fujões"! Tivemos que refazer toda a cerca! E quase que semanalmente é preciso verificar tudo de novo, pois ele puxa as estacas que a prendem, para brincar! Ensinou à Ágata a "roubar" as cenouras do cocho do cavalo, para "desespero" do pobre do Serrano, que com o tempo acabou tornando-se amigo do Bred e já o flagramos até lambendo-o! Rs...A última do Bred? Pendurar-se no rabo do Serrano, que corre com ele pelo pasto! Rs...
Tentei flagrá-los, mas foram mais rápidos que minha máquina fotográfica e estas são as duas fotos que consegui tirar dele com o Serrano e com a Ágata.


A qualidade delas ficou ruim, mas o Bred só pára quando viro as costas. É o tempo todo correndo e pulando. Imagino se tivesse as 4 patas! Rs...

Nota: quando fui buscá-lo com a Suzane, acomodamo-lo no banco de traz do carro. Não é que ele, durante o percurso até a chácara roeu o cinto de segurança? Rs...

                                                                     
Ângela Maria Castilho