quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tu te Tornas Eternamente Responsável



Quando eu penso na Lili, logo encho os olhos de água. Bate uma saudade gostosa, lembrança dos tempos em que morávamos juntos num apartamento confortável e quentinho, lá no Plano Piloto. O lugar era pequeno para caber tanto amor, todo o amor que sentíamos um pelo outro e também pela nossa guardiã, a Deise*.
Eu era muito travesso. Acabei arrumando jeito de precisar de uma cirurgia na pata. Foi um atropelamento? Não lembro! Tem tanto tempo! Tanta coisa aconteceu depois disso...
Sei que da perninha não fiquei lá muito bom. Não conseguia mais dobrá-la direito. Claro que isso não me impedia de viver bem e feliz. Eu, Lili e a Deise... Que saudade! Ela era tão carinhosa, cuidava tão bem de nós. Isto é, confesso que, na ocasião, não gostei muito quando ela castrou a Lili, nem acreditei quando ela disse que era para o nosso bem, para evitar que tivéssemos filhotes que poderiam sofrer depois com o abandono... Ah! Naquela época eu nem sabia o que era o abandono, foi difícil entender. Hoje, se me perguntassem, eu ia querer que ela tivesse me castrado também. É triste imaginar que pode haver filhinhos meus por aí, passando pelo que eu passei...
Certo, certo... Estou me precipitando, desculpe. Vou explicar direitinho como tudo aconteceu.



Um dia, a Deise precisou mudar-se para um outro imóvel e, para lá, ela só poderia levar um de nós. Coitada! Sem saber que este tipo de determinação numa convenção de condomínio não tem nenhum valor legal, ela se viu obrigada a escolher um de nós. Eu não queria estar na pele dela!!
No final, para não nos separar, ela acabou optando por conseguir um novo lar para nós dois juntos. Achou que, assim, ambos sofreríamos menos. Que ideia!!! Será que ela achava que não sentiríamos a falta dela?? Ah! Esses humanos, às vezes conseguem ter tão pouca auto-estima... São incapazes de ver o quanto são amados.
Depois de procurar um pouco, seu prazo para entregar o imóvel se esgotando, ela acabou nos deixando aos cuidados da Malvina*, empregada de uma vizinha dela. Achou que a moça gostava de nós, já que era sempre muito carinhosa conosco, quando nos encontrava em nossos passeios pela quadra. Ah! Como as aparências enganam!!
No início, a Malvina até que nos cuidava direitinho. Lá, do jeito dela, não nos deixava faltar nada. A Deise deixava a nossa ração com a Malvina, na casa de sua patroa, mas, depois, esta também se mudou e não houve mais jeito de nos entregar nosso pãozinho de cada dia.
Sem essa ajuda, a tal Malvina se mostrou como realmente era: nos colocou para fora do portão de sua casa, à nossa própria sorte!


Ficamos ali, naquele lugar estranho, sem saber direito o que fazer. A Lili queria esperar, achava que a Malvina se arrependeria de ter feito algo tão cruel e idiota, que, em algum momento, lá dentro dela, o coração falaria mais alto e ela nos recolheria de volta. Ah! Como as garotas são tolas e românticas! Estava na cara que aquela mulher não tinha um coração!! Seria tão mais humano ter tentado localizar a Deise novamente e nos devolver a ela ou buscar um outro lar para nós... Mas, quando a pessoa não sabe o valor de uma vida, mesmo uma vida pequenina como a da minha querida Lili, vai mesmo optar pelo caminho mais fácil. E nem adianta dizer que, muitas vezes, o caminho mais fácil conduz ao inferno. Gente assim não acredita nem em Deus, que dirá no “outro”?
Por um tempo, fiquei ali com a Lili, cuidando dela. Depois, vi que não teria jeito e fui atrás de comida. Conheci outros prazeres, cheiros, lugares e garotas!! Muitas garotas!! Entrei em algumas brigas, apanhei, bati também, que eu sou pequeno e tenho a perna dura, mas sou um cara valente. Voltava sempre que podia para ver minha amiga. Ah! Lili! Era triste ver seu corpinho emagrecendo, seu pelo, antes sempre tão brilhoso, agora ressecado e sujo. Uma vizinha nos dava água e comida, mas definhávamos a cada dia, provas vivas de que a rua não é lugar para cães e gatos (argh!).
Sabe? A Deise gostava de ler e ela tinha um livro fininho de um tal de Saint-Exupéry, delicioso! É, eu sei, eu sei que eu não deveria ter roído o Pequeno Príncipe dela... Mas eu era um filhote, meus dentes estavam coçando e ela o deixou ali, bem ao meu alcance... Eu lembro que, quando ela viu o estrago que  fiz, já ia brigar comigo. Eu até me encolhi, achei que ia levar uma boas pequenoprincipeadas na cabeça, mas, ao contrário, ela me pegou no colo e começou a ler em voz alta para mim. Eu fingia que prestava atenção, mas estava mesmo era pensando em como roer mais um pedacinho. Porém, teve uma frase que eu nunca mais esqueci:

Claro que na hora não entendi nada. Pensando bem, acho que nem ela, senão, não nos teria deixado aos cuidados da Malvina.
Mas, enfim, agora eu entendo bem. Veja se concorda comigo: quando os humanos primitivos domesticaram os lobos e alguns felinos, eles nos cativaram. A partir daí, tornaram-se responsáveis por nós. Eles nos tiraram os instintos selvagens que garantiriam a nossa sobrevivência livre e independente. Hoje, quando alguém nos abandona ou mesmo quando nos vê perambulando pelas ruas e acha que vamos “saber nos virar”, certamente desconhece que nós só sabíamos nos virar antes desse primeiro encontro, quando ainda éramos uma ameaça aos homens das cavernas.
Triste. Mas, o que esperar de uma gente que trata tão mal os seus iguais, não educa suas crianças, desrespeita os seus velhos, agride suas mulheres? É inacreditável que ainda não estejam extintos!
Talvez a única coisa que os salve é que nem todos são assim.
Algumas pessoas tinham me visto perambulando pelas ruas, magro, sujo, doente e procuraram ajuda.
Quando vieram me buscar, foram momentos tensos! Eu tentei fugir, mas estava muito fraco e não consegui. Tentei avisar a eles que precisava ir encontrar a Lili, que ela ficaria triste se eu não voltasse, mas eles não me ouviam. Ah! Que desespero.
Fui levado para uma chácara onde havia mais um monte de cachorros e finalmente, recebi alguns cuidados: tomei banho, vacina, ganhei uma caminha quentinha e segura, comida, água, tratamento veterinário, por causa de um TVT que peguei de alguma das garotas que conheci...
Era uma vida bem boa, mas, eu só pensava na Lili. Ah! Lili!! O que seria da minha queridinha, sem mim?
Qual não foi a minha surpresa quando, de repente, ela me apareceu, trazida pela Gy, a minha mais nova guardiã?
- Lili!! - gritei. – Lilizinha! Minha Lili!!
Gritei, pulei, lambi, chorei! Ah! Que alegria, rever minha amiguinha!
Ela chegou abatida, mas parecia feliz de me rever e me explicou que a tal vizinha da Malvina, a que vinha nos alimentando, também vinha buscando ajuda para nós e contou a nossa história para muita gente. Depois, juntaram as peças desse quebra-cabeças e me trouxeram a minha Lilizinha!



Puxa! Eu não podia estar mais feliz. Tinha tudo do bom e do melhor e ainda tinha a minha Lili ali, comigo. Claro que eu preferia a época em que vivemos só nós três, eu, ela e a Deise. Mas, depois de tudo o que passamos, aquilo ali era o paraíso. Inferno é a vida nas ruas. Estamos sempre sujeitos a todo tipo de violência, atropelamentos, agressões de humanos que ainda não evoluíram da época das cavernas ou de outros animais igualmente abandonados e perdidos na luta pela sobrevivência. E, se conseguimos escapar de tudo isso, ainda há a fome, a sede, o frio e as doenças... Essas coisas deixam sequelas e, no meu caso, a consequência foi uma cirrose hepática, provavelmente provocada pelos lixos que comi, antes de ser resgatado.  Um dia, acordei meio desanimado, sem apetite. Horas depois, parti, deixando para trás a minha Lili.
Pode não parecer, mas foi um final feliz, sabe? Seria muito triste ter morrido nas ruas, sem carinho, despedir-me dessa vida levando comigo a mágoa do abandono. Ter sido resgatado e bem cuidado em meus últimos meses devolveu-me a fé nos humanos, a esperança de que eles podem evoluir. E mais!! É muito bom saber que, depois de tudo o que passamos, minha Lili está lá feliz, cercada de cuidados e bons amigos.
E eu? Eu estou ótimo! Fiz amigos aqui também e minha perninha agora dobra normalmente! Muito bom!
Um dia, eu e Lili nos reencontraremos e a minha saudade passa de vez.


Até lá fico por aqui, desejando que nenhum cão ou mesmo um (argh!) gato passe pelo que passei. Que todo guardião lembre-se da frase da raposa do Pequeno Príncipe e seja eternamente responsável e, se, por alguma virada do destino, precisar mesmo encontrar um novo lar para algum de nós, que o faça com muito critério, avaliando se o nosso novo guardião terá por nós o mesmo carinho que ele tem e se terá condição de nos sustentar, alimentar, vacinar, levar ao veterinário, quando necessário...
Nossa vida é tão curta! Não é justo que não seja boa!!!

Autor: Toby

* Deise e Malvina são nomes fictícios.

O texto é de Nena Medeiros, baseado em depoimento de Gy Emygdio sobre os cãezinhos Toby e Lili, publicado no site da ProAnima, em seu blog Adota Cães (desativado no mmomento) e no site do Veterinário Wilson.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Olhos nos Olhos, Quero Ver o que Você Faz…



Meu nome é Serena. Eu sofri abusos de alguns seres humanos. Passei fome, passei frio, senti medo, fui chutada, fui encurralada, apanhei, vivia assustada.

O Augusto Abrigo me acolheu há mais ou menos um ano. Nos primeiros dias, fiquei internada em uma clínica para recuperar-me do que havia acontecido. Quando eu estava melhor fiz uma cirurgia de castração. Depois fui para meu novo lar e lá encontrei amor, carinho, paz. Lá a gente esquece que sofreu e lá eu encontrei minha mãe. Ela é voluntária.

Quando nos vimos, nossos olhares não viram mais nada além de uma a outra. Eu corri para seu abraço e lambi muito seu rosto. Não pensei em nada, apenas em chegar perto dela. Ela disse que seu coração esquentou e abriu-se em flor.

Depois disso nada nos separou. Mamãe diz que ela foi resgatada por mim. Hoje eu tenho uma irmã canina, a Berkana, uma beagle linda, um irmão humano, um papai humano e minha mamãe humana.

Às vezes estou dormindo e acordo com minha mãe me olhando. Outras vezes minha irmã Berkana vem e deita pertinho de mim, principalmente nesse tempo frio. Meu pai fica entre mim e a Berkana, na cama assistindo televisão no quarto. Meu irmão humano, Gabriel, dorme comigo depois do almoço. Tenho uma caminha bem gostosinha que fica no quarto dos meus pais, igual à da Berka. A dela fica de frente para meu Pai, eles se amam muito, a minha fica de frente para minha mãe, nós todos nos amamos muito.

Eu vim hoje depois de um ano, latir para vocês que estou muito feliz, que se não fosse o socorro que eu tive, poderia ainda estar em baixo de carros e caminhões tentando dormir, poderia ter sido atropelada e estar paraplégica como alguns dos meus irmãos caninos e felinos que estão no Augusto, poderia ainda estar sofrendo aqueles abusos que me doíam o corpo e a alma.

Vim também fazer um apelo a você:
  • Castre seus animais fêmeas. Se elas reproduzirem e você não puder ficar com os filhotes, talvez tenha vontade de largá-los em algum lugar, e isso não será justo nem com a sua fêmea, nem com os filhotes dela.
  • Castre seus animais machos para que eles não saiam atrás de fêmeas que ainda não foram castradas e se percam de suas famílias, e com isso acabem fazendo parte da estatística cruel da posse irresponsável.
  • Leve-os ao veterinário, mantenha suas vacinas em dia, deixe sempre água potável disponível, não deixe faltar comida para eles.
  • Identifique seu animal de estimação. Pode ser na coleira, ou em uma plaquinha, pode ser apenas com seu telefone. Creia, as pessoas na redondeza de sua residência, vão perceber que seu animal está perdido e tem dono, pois ainda não está machucado, sujo, mancando e ligarão para você. Quando já estamos sujos, feios, maltratados nossa chance diminui, as pessoas tem medo de aproximar-se de nós. Identificar seu animal faz parte da cartilha da posse responsável.
  • Preste socorro a um animal ferido, no final as coisas se ajustam, talvez esse animal complete sua família, assim como completei a minha.
Ser abandonada foi muito triste e se não existissem os abrigos, os protetores, os protetores independentes, o que teria sido de mim? Eu poderia estar morta. Mas eu não estou. Estou aqui te dando meu depoimento de felicidade de alegria por ter tido uma segunda chance dada pelo Augusto Abrigo.

Olhe em meus olhos, sinta o que eles estão te dizendo.



Angélica Bessa é fotógrafa desde 1990 (todas as fotos deste depoimento são suas), voluntária do Augusto Abrigo há mais de um ano e começou a estudar direito com intuito de defender os animais. Atua em direito ambiental e direito de família e prepara-se para tornar-se Promotora e assim poder salvaguardar o direito dos animais com maior exatidão. Casada com Fernando Bessa com quem tem duas filhas de patas, Berkana uma beagle de 8 anos e Serena uma mestiça  de aproximadamente 2 anos.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Trio da Terceira Idade

Sempre fui apaixonada por animais, especialmente por cães. Tive um quando era criança e morava com meus pais, mas, como eu dava água para o cachorrinho beber no meu copo, minha mãe resolveu doá-lo para minha tia que é médica veterinária.
Durante as férias escolares, passava o mês inteiro com ele na casa da minha avó. O cachorrinho viveu 16 anos e chorei muito quando ele se foi.
Depois tivemos um pastor alemão, com o qual, contudo, eu não tinha muito contato, pois ficava sempre no quintal. Acabei, assim, por ter medo do bichinho e perdi a chance de conviver com ele.
Antigamente, criava-se cachorro somente no quintal, sem interação com os membros da família; aliás, ainda hoje é assim, as pessoas enxergam o animal como um objeto que é útil apenas pra proteger a casa; quando fica velho, o animal é entregue na zoonoses ou mesmo jogado na rua. Lastimável!
Talvez, para compensar a falta que tive na infância, hoje tenho muitos cães e vou contar-lhes a história do trio da terceira idade, meus cães que são velhinhos.
São eles por ordem de resgate: Lia, Nanna e Gabriel.
Todos foram resgatados e adotados já idosos. E digo: vale à pena!


Um belo dia, estava voltando de uma feirinha de adoção, indo em direção à minha casa quando avistei um cachorro no balão do Jardim Botânico.
Parei o carro, atravessei a pista e fui em direção ao cão.  Até então, não sabia se era fêmea ou macho. O cão se assustou e correu em direção oposta.  Fiquei com medo que ele atravessasse a pista e fosse atropelado. Parei e fiquei sentada na grama esperando que ele confiasse em mim. Rezei e pedi a Deus que não se afastasse. Comecei a me aproximar aos poucos e deixei ração na metade do caminho, entre mim e o cão, e me afastei. O cão foi até lá, cheirou e começou a comer a ração.
Aos poucos, novamente, fui me aproximando até que ele parou de se afastar e deixou que eu chegasse perto. Quando cheguei pertinho vi que era uma fêmea e imaginei que estivesse no cio, pois ela estava sangrando. Conversei com ela e disse que não ia fazer mal, apenas queria ajudar. Quando vi mais de perto o sangramento, percebi que não era cio, e sim algum problema mais sério.
Novamente conversei com ela e disse: a tia vai te pegar no colo e levar para o hospital, não tenha medo, vou te ajudar.
Acredito que ela entendeu pois não ofereceu nenhuma resistência, não tentou me morder, ficou quietinha enquanto eu a carregava para o carro. Pus o nome de Lia.
Lia tinha TVT, tumor venéreo transmissível, doença muito comum em cães que vivem nas ruas. A doença é altamente contagiosa e é transmitida através de relação sexual, contato físico ou simplesmente pelo fato de um animal lamber o órgão contaminado.
Lia ficou dois meses no hospital fazendo quimioterapia. Até poderia fazer o tratamento em casa, mas eu tinha outros cães e corria um sério risco de a doença ser transmitida a eles.
Durante os dois meses, eu fui visita-la todos os dia e, quando ela ficou curada, levei-a para minha casa.  
No dia em que cheguei com ela em casa, essa cachorra pulava, corria, não sabia o que fazer de tão feliz que estava, parecia que ela sabia que seria a sua nova casa, a sua nova vida.
Lia é uma cadela idosa, não tem dentes na frente,  tem catarata, mas tem bastante energia. Ela brinca, corre, pula, se dá bem com qualquer cachorro, pede carinho, late e trouxe muita alegria para a minha casa.
Às vezes, à noite, antes de dormir, converso com ela e agradeço por ela ter confiado em mim no dia em que  a tirei das ruas.


A Nanna foi encontrada na porta do meu condomínio, na época do inverno, ou seja, numa noite muuuuuuuito fria.
Ela parecia estar com fome, então, fui em casa, peguei uma carne de latinha para cães e pus pra ela comer. Devorou tudo e, logo em seguida, não tive coragem de virar as costas, peguei-a no colo, pus dentro do carro e a levei pra casa.
Nesse mesmo dia, vi que ela estava inquieta, queria o tempo todo fugir, ir pra rua, cheguei a pensar que ela talvez tivesse filhotes. Pus, então, uma coleira nela e fui dar uma volta no comércio pra ver se ela me levava a algum lugar, mas não consegui obter nenhuma resposta e decidi, por fim, levá-la de volta pra casa. A possibilidade de largá-la na rua já estava descartada.
No dia dia seguinte, pela manhã vi, um líquido escuro escorrendo da vagina dela e não pensei duas vezes, liguei para a Dra. Claudia, do Hospital Veterinário São Francisco, e disse que ela precisava de uma cirurgia com urgência, pois tinha quase certeza de que era piometra.
Eu estava certa, Nanna foi operada na mesma semana, foi castrada e, após a cirurgia, voltou pra casa. Aos poucos, ela foi se acostumando com a nova vida e se deu bem com todos os irmãos.
É uma cadela muito tranquila, calma,  já é idosa, não tem dentes e tem catarata. É extremamente dócil e meiga, adora receber carinho e passa o dia tirando uma soneca. Sim, ela é preguiçosa, adora passar a tarde deitada no sofá. Tenho certeza que se abrisse o portão hoje, Nanna ia olhar e pensar: Ahhh! Quero mais é tirar minha soneca no meu sofá, sou feliz aqui.


O Gabriel, vulgo Bibiel, foi encontrado atrás do Extra do Park Shopping, em péssimas condições. Ele tinha uma dermatite em grau avançado, um sutian preso ao dorso e mais uma série de problemas que só foram descobertos depois.
Após o resgate, recebeu o tratamento adequado para dermatite, foram banhos intermináveis e medicação durante semanas, mas ele se curou da dermatite.
Estava também com otite, que, após o tratamento, foi curada. Contudo, o pior é que ele tinha displasia e, por isso, sentia muitas dores nas patas traseiras.
Gabriel fez uma cirurgia nas patas traseiras, que eliminou totalmente a dor. O que ainda resta, que é incurável, é a artrite, e, todos os dias, ele toma um suplemento vitamínico para fortificar as articulações.
Como suas irmãs Lia e Nanna, ele também tem catarata e é um cachorrinho idoso. Ele é mestiço de cocker, é muito rabugento, não gosta quando seus irmãos vêm brincar perto dele, porque, às vezes, acabam esbarrando nele e machucando-o. Ele rosna e late como quem diz: vão brincar pra lá, estão me machucando.

É ele quem manda na casa, todos o respeitam ou têm medo dele. Se os outros estão fazendo muita bagunça, brincado demais ou correndo, ele impõe ordem e todos obedecem.
Apesar de rabugento, ele é adorável, ama ganhar carinho, fica tão feliz que sai correndo pela casa, coisa que ele não pode fazer por causa da artrite. Gabriel não pode se esforçar muito, precisa evitar pular, correr etc. Mas, às vezes, ele fica tão feliz com carinho que sai correndo ou pulando e eu gritando atrás:
- Pára Biel!.
Junto com suas irmãs Lia e Nanna, Gabriel forma o trio da terceira idade da família e, convivendo com eles, posso dizer que adotar um cão idoso é muito gratificante.
Muitas vezes fico triste quando vejo as pessoas procurando filhotes pra adotar.
Não que adotar filhotes seja ruim, claro que não, mas perdem a oportunidade de adotar um cãozinho adulto e idoso. Perdem a alegria de ver o quanto são agradecidos por termos dado a chance de terem um lar feliz, uma segunda chance.
Infelizmente, as pessoas têm uma ideia equivocada de que um cão adulto não vai se acostumar com a nova família, não vai se adaptar com outros cães. Pois eu digo: a Lia, Nanna e Gabriel se adaptaram à casa, aos irmãos e trouxeram muita alegria! Eu me apeguei facilmente a todos eles, aliás, comecei a amá-los desde o primeiro dia em que os vi e, se Deus permitir, eles irão viver muuuuuitos anos.

Renata Dantas Leite é protetora em Brasília.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cachorro Não É Brinquedo!!!




Sempre gostei de cães, mas o trabalho não me permitia ter mais que um deles, pois não tinha muito tempo para dar-lhes a devida atenção.

Além disso, por ter perdido uma grande companheira, uma gatinha chamada Chana, que morreu aos 13 anos, não estava animada em ter outro cãozinho. Ela teve uma compressão na medula e não podia mais andar. Tentei de tudo, mas, infelizmente, ela se foi. Depois disso, decidi que não iria mais criar gatos, pelo menos até me recuperar.

Alguns anos depois, decidi que iria adotar um gatinho para me fazer companhia e à minha cadelinha Nina. Quando tomei essa decisão, meu pai me relatou, chocado, o que acontecia com um yorkshire em seu trabalho.

Ele dizia que deixavam o cachorrinho na varanda do apartamento e batiam nele se ele tentasse entrar no apartamento, não se preocupavam em limpar as fezes dele e só colocavam um tapete fininho de banheiro para ele dormir.

Quando chovia, ele ficava lá se molhando todo e, no outro dia, a "dona" passava o perfume dela para que o cachorro não ficasse fedendo. Isso quando ela não passava  aquele desodorizador de ambientes. Eu fiquei completamente chocada com essa situação e pedi para meu pai falar com a família, pois, se não, eu mesma iria lá. Meu pai decidiu conversar com os "donos" do bichinho. Eles disseram que  compraram o cachorrinho para a filha, mas que ela só cuidou dele enquanto era filhote e que, depois que ele ficou adulto, queriam se livrar do animal, pois diziam que o Tunico era muito agressivo. Mas é claro, ele não sabia o que era carinho, ele só apanhava!

Não foram precisos muitos argumentos para que eles resolvessem nos doar o Tunico.

Quando ele chegou em casa, a nossa aproximação foi um pouco complicada, mas eu entendia que ele tinha medo e a agressividade era a única forma que ele tinha para tentar se defender. Observei que ele gostava de passear e que, mesmo com medo, me deixava colocar a coleira. Aproveitei essa chance e comecei a dar carinhos e gratificá-lo quando ele não era agressivo. Não demorou muito e, em uma semana, eu já andava com ele no colo para todos os lugares. Senti que a cada dia que passava a confiança dele crescia e o medo consequentemente diminuia.

Hoje ele é o meu filho amado e querido, me protege, não deixa ninguém entrar em nosso quarto e é o xodó de casa, toda a família o ama muito, principalmente eu, que durmo e acordo com esse cãozinho que me faz sentir a pessoa mais amada do mundo. Ele está do meu lado em todas as horas! Eu adotei e fui adotada pelo Tunico. Não me arrependo de ter feito vários sacrifícios para o bem estar dele, pois tudo é recompensado quando ele me olha com aquela carinha de agradecimento. Mas, no fundo, no fundo, sou eu que sou eternamente grata por tê-lo comigo!



Nathalya Silva é também a guardiã da Jolie. Seu objetivo ao contar essa história é mostrar que cães não são brinquedos e devem ser tratados com respeito.