quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Uma Porta em Forma de Estrela



Eu moro numa chácara, e já tinha muitos cães. Em agosto de 2009 vi um anúncio sobre a adoção de uma égua, na verdade uma potra. Estrela estava com 2 anos na época, e havia sido resgatada de maus tratos um ano antes pela Gy, muito machucada e quase enforcada. Ela era traumatizada, e estava em plena adolescência. E eu não sabia nada sobre cavalos. Mas tinha muita vontade de ter um.
A Gy me entregou a Estrela por acreditar que eu podia dar uma vida melhor a ela, uma vida sem privações e cheia de amor.  Mas acho que dar apenas uma vida sem privações e cheia de amor pra um animal é insuficiente. Eu acredito na evolução de todos os seres, inclusive os animais. E evolução é transformação. Acho que podemos ser ajudantes na transformação dos animais que cruzam as nossas vidas, pelo menos é isso o que eu tento ser. Tento docilizar aqueles muito brutalizados, encorajar os medrosos, equilibrar os afoitos, levar confiança aos desconfiados, estimular a resiliência dos traumatizados.  E procuro sempre dar espaço e fazer desabrochar a natureza daquele ser, aquele indivíduo único com sua personalidade.
Já no primeiro ano com a Estrela obtive alguns progressos.  A égua birrenta que fugia da gente e não deixava colocar o cabresto desapareceu. Ela fica solta na chácara, se eu deixar a porta aberta ela entra em casa. Ela não é aquele tipo de cavalo distante, que fica no piquete. Ela quer andar atrás da gente e xeretar tudo o que a gente está fazendo no quintal. Acho que ela pensa que é um cachorro. Cavalo geralmente não gosta muito de pegação, mas eu não sabia disso no começo, e acabei acostumando  ela com carinhos, afagos, beijos no focinho aveludado, encostar minha testa na dela, abraços no pescoço, enfim, muita pegação. Ela adora brincar com as outras éguas (é, depois da Estrela vieram mais 3!), e já não tem mais aquele comportamento dominante de querer mandar em todo mundo. Desde o curso de doma racional, onde eu aprendi a lidar com ela, nunca mais ela deu um coice em ninguém, nem em mim nem nas outras éguas. Consegui tirar o trauma que ela tinha nas orelhas, e hoje quando afago as orelhas ela fecha os olhos relaxada. Limpo os cascos todos os dias, pra ela se acostumar que a gente pega nos pés e não achar ruim quando tem que ser casqueada. Sou eu quem limpa, escova, dá banho. O meu caseiro não consegue nem botar o cabresto nela. Mas ele é bruto e não consegue compreender a delicadeza que é preciso ter pra se conquistar um cavalo.



A Estrela tem sido uma escola pra mim. Por ela eu tenho estudado e desvendado um mundo novo sobre cavalos que eu nem sonhava existir. Comprei livros, DVDs, fiz cursos, visitei treinadores em vários centros equestres, e descobri que mesmo nos mais caros e chiques estábulos os cavalos são infelizes. Ganham ração caríssima, são banhados com xampu importado, usam selas de grife, mas vivem confinados em cubículos de 3×3 metros sem janelas. Nestas horas meu bom senso me faz discordar do que “é bom” para os animais.  Aqui a Estrela é livre, dentro das minhas possibilidades. Fica solta na chácara, junto com suas amigas. E ela adora a companhia das outras éguas, especialmente da potrinha, que gosta de brincar de morder. Ela está podendo ter a infância que ela não teve. Tem sua natureza de cavalo respeitada, pode pastar e caminhar o tempo que quiser em companhia das suas amigas. É incrível como a presença de outro cavalo dá segurança pra ela. Mesmo o banho e os exercícios é preciso fazer perto das outras éguas. Eu fico feliz de poder dar esse tempo pra ela crescer e amadurecer, respeitando a sua natureza e as suas necessidades de equino.

O ser humano tem tendência a olhar para o animal sob a sua própria perspectiva. É por isso que eu acho insuficiente dar ração e amor.  Acho que o mais importante que estou fazendo pela Estrela é procurar compreendê-la, escutá-la, estar aberta pra o que ela pode me mostrar que quer e que precisa, estar aberta para compreender a linguagem e o mundo dos cavalos, que é tão diferente de tudo o que eu imaginava. Estar aberta a olhar para um cavalo não do ponto de vista de quem está sentado em cima dele e espera que o cavalo faça algo, mas do ponto de vista de quem está no chão, no mesmo patamar, e gostaria de caminhar junto, se tornar parceiro. E pra conseguir isso estou aprendendo que é preciso muita, muita, muita paciência. E perseverança. E todo dia um pouquinho de cada vez.

E daí descubro que não é só a vida da Estrela que está se transformando. A minha também. Esse exercício de sair de cima da nossa superioridade e olhar o mundo pela perspectiva do outro está sendo revelador. A gente descobre, num susto, o quanto da realidade que a gente não conseguia enxergar. A Estrela está me ensinando a ter humildade. A respeitar toda reação, não como agressões a mim, mas simplesmente porque ela tem um ponto de vista diferente do meu. Eu era muito controladora, achava que era preciso ter pulso forte pra vida não sair dos eixos. Com cavalos não há pulso forte. Se for pela força, eles sempre ganham. E estou tentando levar pro resto da minha vida todos os ensinamentos que a Estrela está me proporcionando.

Eu ainda tenho muito a melhorar, mas a Estrela abriu uma porta maravilhosa na minha vida.  Por isso só tenho a agradecer. A Deus, em primeiro lugar, pela oportunidade. À Estrela, pelo privilégio deste convívio. E à Gy, por ter me dado este precioso presente.


Andréa Vidal mora numa chácara e tem vários animais adotados.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

UMA CARTA DE AMOR


Querido Chico,

Hoje resolvi lhe escrever, pois faz exatamente um ano que nos conhecemos.
Lembra? Era uma segunda-feira, dia 16 de agosto, 2010, noite.
Nos encontramos naquela praça escura, perto de um posto policial, eu, você, seus amigos, e nossa querida Aglay.
Diziam que você costumava aparecer por lá, sempre nos mesmos horários, quando, então, lhe eram destinados restos de comida e um pouco de água.
Talvez você não se lembre dos detalhes desse nosso primeiro encontro; eu, contudo, os tenho vivos em minha memória.
Não por eles serem agradáveis, muito pelo contrário, o que vi me deixou atônita!
Você ali,  cabisbaixo, andar trôpego, assustado; eu e Aglay, em nossa grande missão, sem saber ao certo como agir.
Pensei mesmo que a nossa aproximação seria algo impossível, pois o que esperar de um cão de rua, desconhecido, grande, ferido?
Embora ressabiado, você nos olhava de uma maneira diferente, parecia saber que não lhe faríamos mal. Talvez você acreditasse que aquela seria sua última chance de ver ceifado o sofrimento que as chagas lhe causavam.
Nos aproximamos lentamente e, no afã de comer aquilo que preparamos, você se rendeu calmamente e se lançou, de maneira certeira,  na lona estendida no chão.
Tudo da forma mais serena possível sob o olhar de seus companheiros.
Prostrado no chão, pudemos ver aquilo que lhe sugava a vida: uma enorme ferida, fétida como a morte, asquerosa, horrível! 
Meu Deus! Como foi possível suportar tudo aquilo? Não consigo imaginar você, com tamanha fissura em carne viva, vagando pelas ruas da cidade, em busca de alimento, de água, de um canto onde pudesse se restefelar sem ser escorraçado.
Mas isso agora é passado, o que importa é que você  se entregou ao nosso abraço amigo e pudemos lhe proporcionar o tratamento devido.
Engraçado que somente agora é que me dou conta de que nós é que escolhemos seu nome.
Ao entrarmos no hospital e sermos indagadas sobre como deveria ser chamado aquele que tombava na maca, não exitei em dizer: Chico.
Chico, diminutivo de Francisco, Francisco de Assis, santo de que sou devota.
Naquela noite de agosto, meu amigo, livramos você da morte iminente. Você foi tratado e conquistou a família maravilhosa que hoje te acolhe.
Não pense, contudo, que você nos deve alguma coisa, de forma alguma, nada é devido, não desejamos  nada em troca.
Ao contrário, hoje,  o agradecimento é nosso.
Você só nos proporcionou maravilhas!
Na luta para curá-lo, conhecemos pessoas solidárias, fizemos amigos, compartilhamos emoções e expectativas.
Salvá-lo trouxe à tona diversos sentimentos: paciência, fé,  alegria, determinação, superação, companheirismo.
Mais que isso,  tê-lo como parte de nossa história de vida reacendeu  a chama do AMOR, que tudo pode, que nós dá força e nos faz ter a certeza de que todo ser vivente merece, indistintamente, ser cuidado e respeitado.
Despeço-me, meu amado amigo Chico, na expectativa de nos encontramos em breve.
Ah, se você achar por bem, pode compartilhar esta minha carta. Quem sabe, ao lê-la, mais pessoas não se decidam por ter em suas famílias um animal doméstico e descubram o quanto  essa convivência é capaz de nos fazer crescer como seres humanos, não é?
Paz e Bem a nós, humanos, e a todos os seres viventes.

Suzana Coelho





Suzana Coelho é voluntária da ProAnima e ativa protetora.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ADOÇÃO DE ANIMAIS ADULTOS: UMA DECISÃO SEM MISTÉRIOS

Sou louca por animais. Sempre fui. Principalmente por cachorros. Tive o Yuki quando era pequenina e, depois, a Ivna, uma pinsher que ganhei aos 12 anos e que viveu comigo até o nascimento de meu segundo filho. Depois disso, eu e minha família tivemos um labrador amarelo, quando passamos uma temporada nos Estados Unidos, e que, infelizmente, teve que ser doado para um colega de trabalho de meu marido quando voltamos para o Brasil. Em 2006, se não me engano, pesquisando na internet sobre adoção de animais (pois minha mãe queria adotar um cachorro de grande porte e que fizesse barulho com a chegada de estranhos) acabei conhecendo a ProAnima. Olhando o site do grupo, minha mãe se interessou por um animal que estava hospedado na clínica Prontovet. Resolvemos visitá-lo mas, chegando lá, o dito cachorro rosnou pra ela e houve uma imediata e inesperada antipatia entre os dois. Quando já pensávamos em ir embora, um outro cachorro, também de porte grande, e que estava solto dentro da clínica, se proximou de nós. Era o Paco, um lindo pointer encontrado abandonado no ParkWay e que quase tinha morrido de penumonia. Mamãe adorou o Paco e ele também pareceu gostar dela. Marcamos uma visita do Paco e de um voluntário da ProAnima na casa da mamãe. Na saída, vi presa em uma gaiola da clínica uma cadelinha malhada. Ela tinha um ar de tanta tristeza e desamparo que me aproximei. Quando vi, já estava tirando a mocinha da gaiola e puxando para o meu colo. Ela era chamada Lenita e tinha sido abandonada no quintal de uma casa (segundo o pessoal da clínica, ela tinha ficado 3 dias seguidos sem água e sem comida e só foi resgatada graças a denúncias de vizinhos). Meu Deus, aquela cadelinha tinha que ser minha, era só o que eu conseguia pensar! Na época eu já tinha um bichon frisée, o Zé Luis, e dois pastores alemães. Apesar de meu marido também gostar de cachorros, achei que ele não iria aprovar a idéia de termos mais um. Cheguei em casa e, como temia, a minha idéia não foi bem recebida por ele. Mas claro que eu não pensava em desistir fácil. Na verdade, demorou uns dois dias para convencê-lo a adotar a Lenita (até sonhar com ela eu tinha sonhado - e acho que foi isso que o fez, enfim, ceder). Como os dois animais estavam hospedados na mesma clínica, liguei para a Simone e pedi para ela levar também a Lenita para nos visitar (e foi nessa ligação que fui verificar que já conhecia a Simone do Country Club, da época em que nós duas fazíamos equitação). Enfim, no dia marcado, lá foram o Paco, a Lenita e a Simone nos visitar em casa (eu e minha mãe moramos bem próximas uma da outra) e a visita se transformou em permanente, pois lá mesmo os dois ficaram em definitivo. Depois do Paco, minha mãe adotou a Juma, uma pastora alemã da ProAnima e o meu irmão a Lara, uma SRD que tinha sido animal de experiência da UPIS. Depois da adoção da Malu, eu tirei da rua duas cadelas, a Lola, em 2008 (uma cachorrinha SRD que, por ser muito arisca, teve que ser pega com rede de pesca), e a Dora, em 2009 (uma mestiça de akita com labrador, que encontrei à beira da morte no Lago Sul). Ambas estão ótimas, a Dora totalmente recuperada da doença do carrapato e a Lola, carinhosa e extremamente apegada a mim. Engraçado que eu nunca adotei um filhote. Sempre preferi animais adultos. Pra quem acha que um animal adulto não se adapta a um novo lar, digo que isso não é verdade. Basta ver a perfeita harmonia com que os meus 6 cachorros convivem entre si e com a minha família (claro que, às vezes, rola um estressinho básico entre eles, mas que a gente dá sempre um jeito de contornar...).
Amo meus cachorros e eles me fazem muito felizes. Não saberia viver sem eles.







Elisa Salomon é voluntária da ProAnima e escritora.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NOSSOS FILHOS DE RABO

Tínhamos nos mudado para Brasília fazia cinco meses. Estava deprimida por causa da distância da família, dos amigos e da minha filha persa Lilow Maria. Iniciaríamos uma nova etapa em nossas vidas, constituiríamos a nossa família. E ela começou antes do que imaginávamos. 
 Não queríamos filhos cedo, apesar de adorarmos crianças e, então, decidimos adotar um felino. A idéia inicial era realmente permanecer nessa quantia numérica, mas o amor pelos bichos falou mais alto, daí batemos o martelo: seria um casal. Nossa! A busca foi exaustiva. Começamos pelos gatos de raça. Feiras e internet todo dia pesquisando preço e escolhendo a pelagem do futuro membro da família. Mas, a questão financeira, que para adquirir um gato puro é bastante considerável, pesou em nossa decisão. Então resolvemos, por fim, adotar.  


Li vários artigos e reportagens na internet a respeito de gatos sem raça definida (SRD), principalmente em relação às características comportamentais, que era o que me preocupava. Na medida em que fui esclarecendo algumas questões, desmistifiquei todo receio que permeava minha mente. Retomamos as buscas. Mais umas doses de internet e feiras. Cada filhote que víamos era uma tortura. Todos têm uma carinha tão melancólica, quase implorando para que os levemos para casa. Procuramos pelo temperamento do animal e pela idade.
Queríamos filhotes com menos de seis meses brincalhões e/ou tranqüilos. Cogitamos por vezes até adotar duas fêmeas, mas permanecemos firmes na busca pelos dois gêneros. A procura não durou muito tempo. Era madrugada quando encontramos no site <http://www.shb.org.br/> dois anúncios que despertaram nosso interesse. Aqueles olhinhos pequenos transpareciam o quão indefesos e carentes eram, nos apaixonamos quase que instantaneamente. A ansiedade era tamanha que quase não conseguia dormir pensando na carinha deles. Fizemos contato com os lares temporários dos gatinhos no dia seguinte, tanto por e-mail como por telefone. Só obtivemos êxito em um, o da fêmea, que até então não tinha nome. 


Agendamos uma visita para conhecer de perto a pequena. Tentei inúmeras vezes falar com a responsável pelo Ariel, o filhote macho, até que no final do dia quando enfim conseguimos, descobrimos que ele já tinha sido adotado há dois meses. Mesmo sem conhecê-los, já não conseguíamos pensar nela sem ele e vice-versa. Foi doloroso esse amor platônico, mas teve que acabar ali. Retomamos a busca. Tiramos um dia para procurar em feiras o companheiro de nossa gatinha. Nessa altura do campeonato, já tínhamos comprado parte dos enxovais e escolhido os nomes: Felícia e Horácio. Felícia era a coisa mais linda e fofa deste mundo. Uma pilha a danadinha. Cheia de saúde e de vida. Do jeitinho que imaginamos. Neste mesmo dia fomos a uma feira do Augusto Abrigo lá na Casa do Ceará. Lá encontramos dois gatinhos pretos, um de 4 meses e o outro de 1 ano. Um era espoleta demais e o outro, muito tranquilo e carinhoso. Achamos curioso o fato do mais velho, ainda que exposto numa feira cheia de gente e barulhenta, estar aparentemente calmo. Que dúvida cruel! Saímos para almoçar sem decisão nenhuma. Depois de muita conversa e reflexão, optamos pelo gatinho mais velho, contrariando o que queríamos no início, mas preferimos apostar no equilíbrio entre a energia e o temperamento de ambos, já que a Fefê é muito agitada e mais novinha. Levamos Horácio para casa e ela permaneceu no seu lar adotivo. Nos primeiros dias ele miava muito e pedia incessantemente carinho. Estava um pouco debilitado em razão de uma diarréia que não cessava. A princípio, tínhamos sido orientados que o animal quando passa por momentos de estresse pode reagir com desarranjo intestinal, levamos ao veterinário para fazer um check up. Vacinado, vermifugado e medicado, mesmo assim, o descompasso persistia. Já no final do tratamento do Horácio, enfim, pegamos a nossa Felícia.


Na época morávamos em um apartamento pequeno e não tínhamos redes de proteção na janela. Mais foi tranqüilo ficar com os dois por duas semanas nessas condições. Eu vigiava constantemente. No começo ela ficou muito estressada com ele, se escondia, rosnava, dava patada, não queria papo. E ele coitadinho, fazia inúmeras investidas carinhosas e nada. Mais também não ficou passivo na história. Às vezes ficava com tanto ciúmes dela que se plantava diante dos comedouros e quando ela se aproximava ele fazia questão de mostrar sua imponência, afinal chegou primeiro, era o dono da situação. Com o tempo o inevitável aconteceu, eles começaram a se aproximar, de início para as brincadeiras mais brutas e depois com lambidas carinhosas. Os dois estão sempre juntos, desde a hora do soninho matinal, quando se enroscam um no outro, demonstrando o mais sublime afeto entre irmãos, quanto na hora das travessuras, que por sinal são incontáveis.


Hoje faz cerca de dois meses que nos despimos dos preconceitos em relação aos gatinhos abandonados e nos tornamos uma família plena e feliz com a presença desses dois anjinhos. Sem sombra de dúvidas, um animal preenche muito o vazio que existe em cada um de nós, cada um do seu jeito e à sua maneira, nos surpreende com ações e atitudes cada vez mais humanizadas. O que precisam, é inquestionável: um pouco de amor e respeito. Estamos realizados.
Mara e Vítor