quinta-feira, 30 de junho de 2011

MUDANDO A NOSSA VIDA PARA MELHOR


Selma Gambarini



Sempre tivemos cachorros em casa, desde a infância. Às vezes apenas um, às vezes dois. Dificilmente minha família se viu sem um cãozinho de estimação.
Depois de casada e com meu filho ainda pequeno, adotamos uma cadelinha filhote de vira-lata que ficou conosco por 16 anos. Era nosso amor. O nome dela, dado pelo meu filho, era Dona Nega. Só que nunca a chamávamos pelo nome, era sempre Pretinha ou Neguinha, por causa da cor e porque era de porte médio (chegou a pesar 24 quilos!). Tinha o peito e as patinhas brancas, bem padrão, era linda de morrer.
A nossa Pretinha se foi e meu filho ficou inconformado, muito, muito triste, pois ela era a sua companhia. Para abrandar a saudade, quis outro cão. Eu, com a morte da Pretinha ainda muito recente, não queria outro animalzinho. Ele foi ficando mais triste, e o pai, também muito apegado à Neguinha, começou a procurar um huskyzinho filhote para comprar. Quando fui ver, passados apenas 2 meses da partida da Pretinha, trouxemos uma filhote de Husky cheia de energia para casa.
Laila, uma cadelinha singular, meio lobo, meio pelúcia. Seus traços nos deixaram encantados. Com aqueles olhos azuis provocou uma nova consciência em nossa família. Nos levou a querer participar de seu mundo, querer entender a psicologia dos cães e a reconhecer o prazer de uma convivência feliz.
A paixão por ela era tão grande que quando decidimos adotar outro cão para lhe fazer companhia, meu marido foi irredutível. O cão a ser adotado deveria ser outro Husky.

A princípio, gostaria de adotar um cão de rua. Mas concordei com o fato de ele ter escolhido um cão de raça porque, mesmo sendo considerados nobres, esses cães, por incrível que pareça, também costumam ser abandonados. São os cachorrinhos que são alegremente comprados nos Pets, nos canis de luxo, que são doados por um amigo que teve uma ninhada e não sabe o que fazer com os filhotes, e que acabam, tristemente, sendo descartados, passando de lar em lar, até que encontram a rua. Infelizmente, são muitos os proprietários que descobrem que o filhote que compraram para o filho não é um boneco, que ele dá trabalho (e muito) e exige cuidados que eles não querem ter.
Assim, fomos procurar o nosso Husky para adotar. Procurei na internet e num instante achei o Luke, através de um anúncio como esse:

“Tutti é um cão da raça Husky Siberiano, macho, na cor branca e marrom avermelhada e deve ter entre 1 ½ e 2 anos.
Têm lindos e enormes olhos azuis que nos encantaram! Quem será que eles vão encantar também? Estava muito magro e abatido, pesando apenas 15 kg!! É muito medroso e pelo seu estado, está há muito tempo nas ruas e com certeza, foi maltratado. Vejam a diferença de quando foi encontrado em 30/04 e hoje, 08/05, mais saudável e confiante! Vamos ajudá-lo a encontrar seu dono, ou alguém que possa cuidar e amá-lo como merece? Já foi vermifugado e será entregue vacinado e castrado.
Quem puder ajudá-lo a encontrar novamente a felicidade, por favor, entre em contato conosco!”

Era um Husky Marrom (da cor que queríamos), resgatado por um casal. O Luiz Fernando e a Vera, que ficamos conhecendo por causa do Luke, fazem um trabalho muito bonito, resgatando cães abandonados, cuidando deles, castrando, e encontrando novos lares para eles.
Embora o anúncio afirmasse que ele tinha 2 anos, descobrimos depois sua idade real com um exame de fundo de olho. Na verdade ele já tinha 5 anos. Isso não significou nada para nós. Claro que gostaria de tê-lo conhecido quando era filhote, ele deve ter sido lindo! Mas não o troco por nenhum filhotinho felpudo. Assim que o vi nas fotos, conversei com a família e decidimos adotá-lo.

Quando fomos visitá-lo, que surpresa! Ele era lindo, bonzinho, e se deu bem à primeira vista com a Laila. Imediatamente nos decidimos, e o Luke foi levado pelo casal que o resgatou até a nossa casa.
Embora a sua chegada tenha sido festiva e tranquila, quando o casal o deixou, ele ficou muito tristonho. Com o tempo, ele se acostumou, e deu tudo certo. A Laila teve um papel fundamental na adaptação do Luke. Como eles se deram muito bem e parecia que se conheciam de longa data, nosso menino se sentiu seguro, em completa integração com ela. Isso nos surpreendeu um pouco. Sabíamos que a Laila era sociável com outros cães. Mas não pensei que se dariam tão bem. E ele, por sua vez, tornou a Laila um pouco menos agitada... ela, na companhia dele, estava mordendo menos a gente...
Desde o início o Luke se mostrou um cão tranqüilo, sossegado, super educado. Nunca fez as necessidades dentro de casa, e sempre obedeceu aos comandos vem, fica... Ele deita para escovar o pelo, e vira de lado quando pedimos. É um doce de cachorro, sempre parecendo que está pedindo “por favor” para fazer as coisas.
Na verdade, podemos dizer que nossos cães possuem, juntos, um imenso poder de transformar o mundo em sua volta, para melhor. Além de terem modificado um ao outro, eles provocaram outras tantas mudanças na nossa vida familiar.

Mesmo sendo esse doce, o Luke parecia ter problemas na socialização com outros cães. Ao avistar outro cão, ele parecia ficar agressivo, latindo e querendo atacar. Para resolver esse problema, contratamos uma adestradora e começamos todos a nos informar sobre o comportamento dos cães.
Meu marido, que passava mais tempo com os cães, passou a entender melhor os sinais que o Luke emitia antes de ter seus “chiliques” e compreendeu que, na verdade, eles nada mais são do que manifestações de vontade de conhecer o outro cão... Ele faz escândalo, quando na verdade quer é brincar... Durante as conversas com a adestradora meu marido percebeu sua vocação e vontade de trabalhar com animais, e resolveu se tornar um adestrador.
Hoje, nossa vida praticamente gira em torno deles. Sempre que vamos fazer alguma coisa, pensamos como incluí-los. Todos os dias, levamos os dois para passear. E procuramos não chegar tarde em casa à noite, pelo prazer que temos em compartilhar nossos bons momentos com eles...
Como podem ver, minha experiência com a adoção de um cão adulto abandonado é tão positiva que só posso recomendar a todos que pensam em ter um cãozinho de estimação, que optem por um animal nesta condição.
Não só porque eles irão saber dar o devido valor a uma caminha quentinha, a uma comidinha e a uma mão que os afague, ou porque irão ficar felizes e pular de alegria quando avistarem seu salvador. Mas porque esses animaizinhos perdidos que passam esfomeados por nós pelas ruas, todos os dias, escondem tesouros que podemos descobrir, na beleza de suas personalidades, na nobreza de suas almas. Eles trazem a promessa de uma amizade sem fim. E o poder de transformar nossas vidas para melhor.





Selma Saglauskas Dias Gambarini trabalha com informática em um órgão público em São Paulo. Casada, tem um filho formado em Universidade e dois cães lindos: a Laila, de 2 anos e 7 meses, e o Luke, adotado com 5 anos, há quase dois.

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