quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NOSSOS FILHOS DE RABO

Tínhamos nos mudado para Brasília fazia cinco meses. Estava deprimida por causa da distância da família, dos amigos e da minha filha persa Lilow Maria. Iniciaríamos uma nova etapa em nossas vidas, constituiríamos a nossa família. E ela começou antes do que imaginávamos. 
 Não queríamos filhos cedo, apesar de adorarmos crianças e, então, decidimos adotar um felino. A idéia inicial era realmente permanecer nessa quantia numérica, mas o amor pelos bichos falou mais alto, daí batemos o martelo: seria um casal. Nossa! A busca foi exaustiva. Começamos pelos gatos de raça. Feiras e internet todo dia pesquisando preço e escolhendo a pelagem do futuro membro da família. Mas, a questão financeira, que para adquirir um gato puro é bastante considerável, pesou em nossa decisão. Então resolvemos, por fim, adotar.  


Li vários artigos e reportagens na internet a respeito de gatos sem raça definida (SRD), principalmente em relação às características comportamentais, que era o que me preocupava. Na medida em que fui esclarecendo algumas questões, desmistifiquei todo receio que permeava minha mente. Retomamos as buscas. Mais umas doses de internet e feiras. Cada filhote que víamos era uma tortura. Todos têm uma carinha tão melancólica, quase implorando para que os levemos para casa. Procuramos pelo temperamento do animal e pela idade.
Queríamos filhotes com menos de seis meses brincalhões e/ou tranqüilos. Cogitamos por vezes até adotar duas fêmeas, mas permanecemos firmes na busca pelos dois gêneros. A procura não durou muito tempo. Era madrugada quando encontramos no site <http://www.shb.org.br/> dois anúncios que despertaram nosso interesse. Aqueles olhinhos pequenos transpareciam o quão indefesos e carentes eram, nos apaixonamos quase que instantaneamente. A ansiedade era tamanha que quase não conseguia dormir pensando na carinha deles. Fizemos contato com os lares temporários dos gatinhos no dia seguinte, tanto por e-mail como por telefone. Só obtivemos êxito em um, o da fêmea, que até então não tinha nome. 


Agendamos uma visita para conhecer de perto a pequena. Tentei inúmeras vezes falar com a responsável pelo Ariel, o filhote macho, até que no final do dia quando enfim conseguimos, descobrimos que ele já tinha sido adotado há dois meses. Mesmo sem conhecê-los, já não conseguíamos pensar nela sem ele e vice-versa. Foi doloroso esse amor platônico, mas teve que acabar ali. Retomamos a busca. Tiramos um dia para procurar em feiras o companheiro de nossa gatinha. Nessa altura do campeonato, já tínhamos comprado parte dos enxovais e escolhido os nomes: Felícia e Horácio. Felícia era a coisa mais linda e fofa deste mundo. Uma pilha a danadinha. Cheia de saúde e de vida. Do jeitinho que imaginamos. Neste mesmo dia fomos a uma feira do Augusto Abrigo lá na Casa do Ceará. Lá encontramos dois gatinhos pretos, um de 4 meses e o outro de 1 ano. Um era espoleta demais e o outro, muito tranquilo e carinhoso. Achamos curioso o fato do mais velho, ainda que exposto numa feira cheia de gente e barulhenta, estar aparentemente calmo. Que dúvida cruel! Saímos para almoçar sem decisão nenhuma. Depois de muita conversa e reflexão, optamos pelo gatinho mais velho, contrariando o que queríamos no início, mas preferimos apostar no equilíbrio entre a energia e o temperamento de ambos, já que a Fefê é muito agitada e mais novinha. Levamos Horácio para casa e ela permaneceu no seu lar adotivo. Nos primeiros dias ele miava muito e pedia incessantemente carinho. Estava um pouco debilitado em razão de uma diarréia que não cessava. A princípio, tínhamos sido orientados que o animal quando passa por momentos de estresse pode reagir com desarranjo intestinal, levamos ao veterinário para fazer um check up. Vacinado, vermifugado e medicado, mesmo assim, o descompasso persistia. Já no final do tratamento do Horácio, enfim, pegamos a nossa Felícia.


Na época morávamos em um apartamento pequeno e não tínhamos redes de proteção na janela. Mais foi tranqüilo ficar com os dois por duas semanas nessas condições. Eu vigiava constantemente. No começo ela ficou muito estressada com ele, se escondia, rosnava, dava patada, não queria papo. E ele coitadinho, fazia inúmeras investidas carinhosas e nada. Mais também não ficou passivo na história. Às vezes ficava com tanto ciúmes dela que se plantava diante dos comedouros e quando ela se aproximava ele fazia questão de mostrar sua imponência, afinal chegou primeiro, era o dono da situação. Com o tempo o inevitável aconteceu, eles começaram a se aproximar, de início para as brincadeiras mais brutas e depois com lambidas carinhosas. Os dois estão sempre juntos, desde a hora do soninho matinal, quando se enroscam um no outro, demonstrando o mais sublime afeto entre irmãos, quanto na hora das travessuras, que por sinal são incontáveis.


Hoje faz cerca de dois meses que nos despimos dos preconceitos em relação aos gatinhos abandonados e nos tornamos uma família plena e feliz com a presença desses dois anjinhos. Sem sombra de dúvidas, um animal preenche muito o vazio que existe em cada um de nós, cada um do seu jeito e à sua maneira, nos surpreende com ações e atitudes cada vez mais humanizadas. O que precisam, é inquestionável: um pouco de amor e respeito. Estamos realizados.
Mara e Vítor

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