quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Minha Vida com os Felinos



Sempre adorei animais, especialmente cães e após duas experiências com adoráveis amigos do mundo canino, ocorridas há bastante tempo atrás, em fevereiro de 2009 resolvi adotar uma amiguinha felina.
Carente de tudo, Flor (assim a chamei) foi encontrada na lata de lixo juntamente com seus 4 irmãozinhos. Frágil, porém guerreira sobreviveu com somente um dos irmãozinhos a uma rinotraqueite.
Com apenas poucos gramas e muito pequenina este adorável serzinho foi parar na minha casa.
Ambas sofremos com a adaptação. Ela com o tradicional fungo e eu com quatro crises recorrentes de sinusite. Devidamente tratadas, fomos nos conhecendo e fortalecendo nossos laços de respeito, amizade e amor.
Antes rabugenta e um pouco arredia, chegando a me fazer pensar que não daríamos certo, Flor foi cedendo às minhas investidas e ficando cada vez mais amorosa. Recebia-me com longos miados e muito ronronar todas as vezes que eu chegava a casa.
Fui descobrindo através dela o fantástico mundo dos felinos.
Extremamente limpa, silenciosa, curiosa e possessiva foi me conquistando dia após dia com suas brincadeirinhas e ‘conversinhas’ e seu cuidado em me deixar feliz.
Muito saudável, disposta e brincalhona, definitivamente foi capaz de preencher meus dias e me fazer esquecer de qualquer tristeza.
Tudo ia muito bem até que um belo dia percebi que ela não estava tão normal. Algumas mudanças de comportamento mostravam perda da agilidade e da sua tradicional curiosidade o que me causou estranheza. Nada alarmante, pensei, uma vez que ela continuava se alimentando e bebendo água com a freqüência normal e parecia forte e saudável. Um novo hábito também apareceu: o de dormir dentro da pia do banheiro o que achei curioso.
Como já íamos ao pet para a vacinação, comentaria com a veterinária sobre minhas observações que não deviam ser nada sérias. Foi aí que veio a infeliz surpresa: febre alta, anemia profunda e a suspeita de Mycoplasma Felino. Mas como?! Pensei. Minha mocinha era tratada como rainha! Royal Canin desde bebê, água filtrada trocada diariamente, escovações 2 vezes ao dia, banho 1 vez por mês e todos os cuidados e atenção com sua saúde e higiene que um animalzinho doméstico requer. Impossível Flor ter sido vítima de uma picada de parasita!
O ultrasom mostrou uma leve alteração no rim, já o exame de sangue comprovou o caos. O sistema imunológico da minha amiguinha estava no fundo do poço, as mucosas um papel e ela, sempre guerreira, lutava para manter-se de pé.
Entendi que esta doença pode ter vindo de sua época de abandono ou até ter sido transmitida por sua mãe e que já vinha abatendo-a sorrateiramente há um bom tempo.
Entramos com os medicamentos injetáveis e orais e uma breve e feliz melhora. Super carinhosa me surpreendeu com seus chamegos quando a febre e a dor foram temporariamente aliviadas.
Continuamos com o ciclo de medicamentos orais e os vômitos e a apatia tomaram conta da minha bichinha.
Veio a internação e com ela uma excelente recuperação. Esperança!
Flor me recebeu miando e ronronando quando fui visitá-la. Mesmo no soro, aninhou-se e ronronou em meu colo e demonstrava desagrado toda vez que a veterinária se aproximava.
Foi quando pedi a ela que agüentasse firme, que fosse a guerreira de sempre. Poxa, se ela já tinha sobrevivido antes quando não tinha nada senão o desprezo humano, que resistisse novamente pois agora ela fazia a diferença na vida de alguém. E eu estava esperando por ela daquele jeito de sempre toda serelepe e ronronante na nossa casinha.
No dia seguinte a piora e a necessidade de uma transfusão de sangue.
A veterinária fez o impossível mas infelizmente minha amiguinha partiu.
Tudo tão rápido, tão inesperado...
É entre lágrimas que escrevo estas linhas, uma pequena homenagem a essa minha companheirinha tão querida e especial. Uma criaturinha que encheu minha vida de alegria e fez a diferença nos meus dias mais difíceis.



Após a partida da minha querida Flor e o sofrimento que causou, juntei todos os seus pertences me prometi que nunca mais teria bicho algum. Convenci-me de que não dispunha de espaço, de tempo e principalmente de estrutura para suportar outra perda.
Mal sabia eu que o destino me uniria com outra criaturinha de quatro patas.
Um mês após perder a Flor, numa noite que estava particularmente triste devido à sua ausência, acordei ao ouvir miados altos e o alvoroço de pessoas. Olhei da janela e vi aquela bolinha preta, meio desengonçada, saindo de debaixo do meu carro e correndo pra longe da confusão dos meus vizinhos, que tentavam resgatá-la e já faziam até planos sobre ela. Fiquei indicando a sua direção, pois do alto conseguia ver exatamente para onde ia e percebendo que as pessoas estavam realmente empenhadas em encontrá-la, voltei a dormir pedindo a Deus que cuidasse daquela criaturinha.
Eram 2h30 da manhã quando voltei a ouvir os miados que agora estavam mais altos e sofridos. Num salto voltei à janela e lá estava a ‘bola preta’, novamente saindo de debaixo do meu carro.
Vesti-me rapidamente, peguei uma toalha e esquentei um pouco de frango no microondas pois havia feito aquele juramento de não ter mais bichos e a esta altura eu não tinha absolutamente mais nada para gatos.
Se resgatar um gato já é difícil, resgatar um gato preto à noite parece impossível. Pior, a ‘bolinha preta’ não mostrava o menor interesse pela comida e parecia apavorada com a minha presença.
Comecei a ficar preocupada por estar sozinha, de madrugada, numa rua deserta e pedi proteção e ajuda. Foi quando a criaturinha saiu correndo do esconderijo e se encurralou. Foi a minha chance! Enfrentei aquele olhar ameaçador que só os gatos tem... Sem falar que ela sibilou, bufou, deu patada e tentou me afastar de tudo quanto é jeito. Finalmente peguei-a e enrolei-a na tolha. Fazia muito frio e a pequenina, com o coração disparado, quase desmaiou quando se viu toda enrolada na tolha quentinha e recebendo carinho. Ficou toda molinha, coitadinha.
Passei o resto da madrugada conferindo se ela estava bem. Ela, escondida, não permitia ser tocada e sibilava ao menor sinal de aproximação.
De manhã cedo estávamos na veterinária e Drª Luciana Soares, novamente, tratou-a com todo carinho e atenção. Vendo minha indecisão, ela nos cedeu o "enxoval" básico até que eu decidisse se ficaria ou não com ela.
E eu querendo me convencer de que não a adotaria... Tadinha de mim!
Ela já tinha me adotado. Era minha e eu não sabia.
Perguntando para os vizinhos sobre ela e verificando se tinha dono, descobri que saiu do carro de um cliente da oficina vizinha. Veio da 704 até a 710 norte dentro do motor e quando o mecânico tentou pega-la, sibilou, fugiu e sumiu. Teve sorte de não sofrer nenhuma queimadura ou qualquer outro trauma enquanto esteve dentro do carro ou vagando perdida pela quadra.
Batizei-a de Luna por tê-la encontrado sob a luz da lua e pela cor da sua pelagem que tem nuances de cinza.
Pois bem, Dona Luna passou meses escondida em locais diferentes da kit só saindo para se alimentar ou usar a caixinha de areia. Insistente, eu a pegava sempre que chegava, antes de sair de casa e de tempos em tempos, mesmo sob seus protestos e reclamações. Um belo dia tive a feliz surpresa de tê-la me esperando na porta e morri de alegria: enfim viramos amigas!
Completamente diferente da Flor que era sociável ao extremo, Luna é tímida, quieta, medrosa e desconfiada. Ela é extremamente doce, sensível, delicada, cuidadosa e muito na dela. Uma verdadeira lady! É nítido o cuidado que ela tem comigo e como respeita meu espaço.
Hoje não consigo mais me ver sem a adorável companhia de um gato e agradeço por ela ter aparecido chorando embaixo da minha janela naquela fria madrugada de maio.
Mente quem diz que gatos são frios, insensíveis e desagradáveis. Independentes sim, mas seres adoráveis! Amigos, companheiros, amáveis e dotados de uma grande sensibilidade e personalidade, são animais que
merecem nosso carinho e respeito.

À minha Florzinha do coração, que descanse em paz.. Minha companheirinha felina, o meu muito obrigada pelo seu carinho e seu amor incondicional. Você fez com que eu me sentisse sempre muito especial e espero ter retribuído a altura todo o bem que você me fez. Que Deus a receba de braços abertos e a mantenha em um lugarzinho de muita paz, tranquilidade e muito aconchego que é o mínimo que você merece.

À Drª Luciana Soares, o meu eterno carinho e agradecimento pela atenção, o empenho e o suporte. Que o estudo da minha Florzinha ajude a salvar outras vidinhas atingidas por esta doença tão silenciosa e cruel.

E, claro, à pequena Luna, uma amiga muito especial e muitíssimo amada!




Cristiane Gomes é promotora de eventos em Brasília.

Nenhum comentário:

Postar um comentário