quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Meu Nome não É Nestor! É Johnny!



Cadê a minha família? Faz tempo que estou aqui esperando o pessoal voltar, mas eles não chegam nunca. Deixaram-me aqui ontem a noite, não sei mais o que fazer. Passei a noite com um pouquinho de medo e dormi debaixo daquele carro. Não estou acostumado a dormir assim, no chão. O carro está um pouco sujo de graxa e acabei esbarrando num pedaço. Sujou meu pelinho branco, que tinha acabado de ser lavado e penteado.
Mas é movimentado aqui, gente! Tanta gente passando, tanto carro correndo naquela rua...
Que horas serão? Estou ficando com fome.
Mais cedo um pouquinho passou uma mulher por aqui e me perguntou o que eu, um cachorrinho tão limpinho e com uma coleirinha vermelha estava fazendo na Avenida Paulista, com uma mancha de graxa nas costas. Ela me perguntou se estava sozinho ou estava com alguém. Eu não soube o que responder pois imagino que não esteja sozinho, mas também não estou mais aguentando esperar a minha família vir me buscar.
Vou tentar perguntar para as pessoas que estão passando como é que faço para ir para casa:
Hei, moço, moço?? Você sabe para que lado fica a minha casa?? Espera aí, volta!! Será que vou ter que correr atrás de você? Ah! Quer brincar, né? Vou correr junto com você!
- Passa cachorro! Não vem atrás de mim, não!
Nossa, moço! Pensei que queria brincar! Não precisa me chutar, não!! Que susto!
Estou com medo, medo, medo. E com fome e sede... Onde é que estou? Como vim parar aqui?
Olha lá, lá vem a mulher que me tratou bem, de volta. Será que ela também vai me chutar? Ai que medo! Olha, ela tá xingando o homem que me chutou. E está vindo para perto de mim! Acho que ela vai me xingar. Vou correr para o meio daquela rua, ela não vai me alcançar...
- Vem aqui! Não pode ir para lá, não!
Ih! Ela tá brava. É melhor eu obedecer. Vou ficar aqui abaixadinho. Vamos ver se ela passa direto e não implica mais comigo.
- Você está é perdido, não é? Vamos descobrir isso agora. Senhor, esse cachorrinho é seu?
- Não, não é.
- O senhor o viu com alguém?
- Não senhora, ele está aqui há um tempo. Deve estar perdido.
- Não vou desistir, meu amigo. Vamos procurar seu dono.
Olha, gente, ela está perguntando para todo mundo que passa, para os porteiros dos prédios, até para uns policiais ela está perguntando.
E ainda tirou o cinto do casaco e prendeu na minha coleira. O que será que ela vai fazer comigo?

- Meu amigo, parece que você está mesmo perdido. Mas eu não vou conseguir te deixar aqui. Vamos dar umas voltas por aí, para ver se encontramos a sua casa. Pode ir andando em direção à sua casa. Vamos lá. Eu levo você.
Nossa, não sei para onde ir. Vou ficar aqui paradinho, até ela perceber que eu não sei.
- Bom, já que você não sabe, vamos andando, perguntando
Boa, garota! Você é bem esperta! Vamos lá! Ih! meu rabinho tá balançando... Acho que agora eu relaxei um pouco.
Já andamos, a minha amiga já me deu água, já parou em consultórios veterinários para perguntar se alguém me conhece, mas eu não conheço essa gente. Eu estou é cansado...
- Você está cansado, amigão? Então, já que ninguém te conhece, e eu já estou cansada de procurar pelas pessoas que provavelmente te abandonaram, vamos para a minha casa para descansar, comer e descobrir um jeito de te acomodar. Na rua é que você não fica! Você tem cara de cachorro que não sabe se virar sozinho. Vamos, vamos! Lá em casa eu tenho 2 cachorros também. Não vou te deixar brincar com eles antes de passar você pelo médico e descobrir se você tá doente, se tem verminhos, carrapatos... Depois disso eu deixo. Vamos lá.
Como? Casa com cachorros, médico, injeção, banho e tosa? Ai, estou com mais medo. O que faço para me livrar disso? Já sei! Vou “emburrar”. Não vou mais comer nem beber água, ficar num canto encolhido para ela ver que não estou gostando nada disso.
- Ai, meu Deus! Você está triste? Não liga para os meus filhotes, eles latem para você, mas é porque querem vir aqui te conhecer. Olha, tem comidinha, aguinha, caminha... Fica aqui na varanda, que é bem grande, tem lugar para fazer xixi, correr, brincar, tudo o que você quiser. Fica aqui para eu poder tomar algumas providências. Vou ligar para uma tia minha que mora em uma casa, gosta de cachorros e acabou de perder o seu Amarelo. Vamos ver se ela pode ficar com você até eu encontrar um lugar definitivo. Quem sabe ela não se apaixona por você e não resolve ficar contigo para sempre? Vamos tentar?
Olha moça, você não está vendo que o que eu quero é voltar para casa? Não dá para você encontrar a minha família? Já estou entrando em desespero!
- Eu sei que você está com saudade de casa. Olha só como gosta de carinho! Estou vendo que é um cachorro de família. Mas como é que vou encontrar a sua casa? Você não está usando identificação, te encontrei num lugar muito movimentado, já perguntei em vários prédios se te conhecem e nada... Vou encontrar um lugar para você ficar e prometo que procuro a sua casa, tá bom? Vê se me ajuda, não fica com essa cara, não...
Tá bom (suspiro!). Eu vou tentar... Estou vendo que você não quer me fazer mal. Enquanto isso, coça a minha barriguinha?
- Oi, tia, tudo bom? Olha, estou precisando muito da sua ajuda. Encontrei um cachorrinho muito fofo aqui na Avenida Paulista, muito assustado e resolvi acolhê-lo para tentar encontrar a casa dele. Será que você pode ficar com ele por uns dias na sua casa? Aqui ele não pode ficar por causa dos outros cachorrinhos. Eles são filhotes e não posso deixar um cachorro que não sei se é saudável perto deles. Vou levá-lo ao veterinário para uma avaliação, dar outro banho, cortar os pêlos. Mas ele tem que ficar em observação por uns dias antes de colocá-lo junto com os meus cães. E não posso mantê-lo preso na varanda, que é grande, mas é descoberta. Se chover ele vai se molhar. Por favor, me ajude. Fiquei sabendo que o seu cachorrinho, o Amarelo, morreu há pouco tempo e imagino que ainda tenha a casinha dele aí. Juro que não vou te dar despesa. Levo ele para aí e volto para divulgar que o encontrei. Por favor, por favor, por favor!! (...) Tá bom. Obrigada. Vou levá-lo ao Veterinário naquela loja grande da Marginal, vou dar banho e tosar. Compro ração e comedouros e passo aí para deixá-lo. Obrigada, obrigada, obrigada!! Até mais tarde.
- Nossa, viu? Minha tia é superbacana! Você vai gostar dela. É muito legal, lá. Vamos para o Pet, ver como anda essa saúde.
Vamos, né? Fazer o quê? Pelo menos essa coleira que me colocou é mais bonita que a minha, que estava bem velhinha...


- Bem, doutora, encontrei esse menino bonito na Avenida Paulista hoje pela manhã e preciso fazer alguma coisa por ele. Vou levá-lo para a casa de minha tia, mas tenho que ter certeza que ele está saudável. Não posso deixá-lo lá se tiver algo de errado com ele. Já demos banho e tosamos. Ele é bem bonzinho, deixou dar banho, tosar, escovar os dentes, tudo sem reclamar!
Você é que pensa! Tô morrendo de raiva daquele tosador! Só não mordi porque estou muito cansado/assustado/com medo. Mas se encontrar com ele de novo, ele vai ver como dói uma mordida!
- Então, sem reclamar é modo de dizer, né? Ele está assustado, mas nota-se que é um bom rapaz.
- Vamos ver esse moço, aqui... Vamos fazer um hemograma, um exame clínico. Pelos seus dentes, ele deve ter uns 2 aninhos... Não está castrado, tem bons reflexos... É bonzinho demais! Gosta de afago... Ei, você tirou a sorte grande, hein? Rapaz iluminado! Uma centena de cachorrinhos dessa cidade não consegue o que você conseguiu hoje: ser resgatado e encaminhado... Qual o seu nome, para eu colocar no pedido do exame?
É Johnny, Johnny, ouviu doutora?
- Vamos chamá-lo de Nestor, Doutora...
Nestor??? Credo!!! Tá me achando com cara de Nestor?
- Calma, Nestor! Não precisa se agitar. É só para identificar o exame de sangue. Depois a gente muda o seu nome...
Obrigado, doutora! “Nestor”! Essa mulher é maluca!

- Bem, ele está bastante saudável. Não tem indicação de nenhuma doença, mas deve ficar em observação. Vamos dar um vermífugo e vaciná-lo. Ele já pode ir para a casa da tia.
- Obrigada, doutora. Hoje foi um dia muito cheio para ele. Acho que vai descansar bastante.
Foi mesmo! Esse banho me deixou com muito sono!!


E foi assim que o Johnny chegou aqui em casa.
Minha sobrinha o trouxe para ficar apenas alguns dias, e ele acabou me encantando. Não só a mim, mas a toda família.
Depois de 3 dias, já pedi para deixá-lo aqui comigo. Claro que nenhum outro cachorrinho irá substituir o Amarelo. A saudade dele é grande. Mas o meu Johnny veio para me consolar, e faz isso como ninguém.
Ele não deve ter gostado do nome que ela deu para ele, Nestor. Resolvi chamá-lo de Johnny, e parece que ficou mais satisfeito. Chamo “Johnny!”, e ele vem todo feliz.
É um cãozinho muito asseado, não faz nenhuma sujeira dentro de casa. Desde as primeiras horas conosco, pede para sair. É muito simpático, me faz companhia cuida da casa como ninguém! Adora latir no portão, para quem passa ou para outros cachorros.
E só gosta de comer ração Super-Premium. As outras ele não come, de jeito nenhum . Sinal de que foi acostumado com este tipo de alimentação.
Como sempre adotei cachorrinhos da rua, achei isso interessante. Os cachorros da rua demoram a se habituar com a alimentação baseada em ração. O Johnny não. Já chegou devorando a raçãozinha.
Não faço idéia de como foi que esse doce de cãozinho foi parar na rua. Não é possível que o tenham abandonado. Ele é muito carinhoso, adora dormir no meu quarto, sabe se comportar na sala.
Talvez tenha fugido de casa, ou sido roubado.
Não importa. A verdade é que ele agora está comigo e nunca mais vai se sentir inseguro como quando foi encontrado, nunca mais vai passar fome, frio ou sede, e saberá, para sempre, que é muito amado.
- Não é verdade, Johnny?

- É verdade! Eu sou muito amado, e retribuo isso à minha mãezinha, todos os dias

Terezinha é dona de casa em São Paulo, e já adotou vários cãezinhos de rua, todos adultos, que chegaram à sua casa pelas mais diversas formas. A todos, ela deu um lar de verdade.

Um comentário:

  1. Fiquei super sensibilizada com essa história. A única pena que eu senti foi da família que o perdeu inexplicavelmente na Avenida Paulista. Nem consigo imaginar um cachorro nessa avenida de grande movimento.

    Foi uma dádiva o Nestor, ops o Johnny ter encontrado a família da Terezinha. Adoro histórias com final feliz.

    Beijos para vocês e lambidinhas no Johnny

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