quinta-feira, 21 de julho de 2011

O DONO DA RUA



Ana Elisa de Rizzo



Adotei dois amigos: a Filó e o Bob. A história da Filó é bem comum, sem grandes emoções. Foi adotada de uma ONG com 6 meses de idade e vivia numa gaiolinha com direito a ficar fora dela por 1 hora por dia. Hoje está ótima e tem energia que pode deixar vários cachorros para trás na corrida. É minha coisa gostosinha, pretinha e minúscula.

Já a história do Bob é bem legal:
Em 2000, eu e minhas duas cachorras mudamos para minha casa atual. Vickie, que já era velhinha e diabética e Pitchula, que trouxe da praia. As duas já são estrelinhas no céu. Pitchula também tem uma história legal. Conto outro dia!
Aí, um dia, estava de carro parada no trânsito de São Paulo, na Avenida Cidade Jardim com a Avenida Faria Lima. Vi do outro lado, um cachorro andando sozinho, tão estiloso que me chamou a atenção. Imagino que ele não tenha me visto naquela ocasião, porque eu estava dentro do carro do outro lado da rua. Bem, o fato é que no dia seguinte, dia do meu aniversário, estava dando uma pizzaiada para comemorar o aniversário e a inauguração da casa. E quem aparece de penetra? O cachorro estiloso! Ele veio, entrou no quintal e se divertiu muito, claro.
Detalhe: minha casa fica na Vila Madalena, a uns 10 km de distância do local onde eu o havia visto.
Simpático como ninguém, conquistou a todos. A rua, então, o adotou. Compramos casinha, vacinamos, castramos, colocamos coleira com o nome Bob (pus meu telefone na identificação) e ele ficou tomando conta da rua. A todos que passavam pela rua, ele acompanhava com cara de "A rua é minha. Quem é você?" Às vezes latia e mostrava-se bravo para quem ele não gostava.

Por causa da identificação, recebi muitos telefonemas durante a noite. Pessoas que me ligavam dos bares na Vila Madalena, dizendo que meu cachorro era um fofo e que estava socializando com os clientes no bar.
É lógico que eu queria arranjar um dono para ele. Mal sabia que ele já havia me escolhido... Consegui um adotante que morava numa casa e ele foi. Foi, fugiu, e depois de dois dias desaparecido, apareceu na minha casa novamente! Não adiantou. Ele voltou para mim...
Uma noite, minha vizinha tocou a campainha, me acordando e dizendo que alguém tinha tentado matar o Bob com fogo. A casinha dele estava pegando fogo (quase pegou fogo na fiação da rua), com um cheiro forte de gasolina. E ele tinha sumido. Quando apareceu, alguns minutos depois, ele também cheirava a gasolina, mas, graças a Deus, não tinha sido queimado.
Nesta noite, decidi colocá-lo para dentro de minha casa, mesmo já tendo dois cachorros e sem muita condição.
Comprei muita briga porque ele era um cachorro bravo, latia e avançava nas pessoas. Recebi ligações clandestinas ameaçadoras no meio da noite. Um horror!
Hoje, este fofo é meu protetor. Já me livrou de assalto, e me dá muita segurança. É todo simpático. Chega nos lugares, dá uma volta com aquele ar de quem é íntimo, cumprimenta todo mundo e pede carinho para todos, não importa quem. A cara de bravo continua, mas ele é tão manso que não revida nem investidas de outros cachorros.


Ana Elisa de Rizzo vive em São Paulo e é a feliz guardiã da Filó e do Bob.

2 comentários: